Bolsonaro contrai coronavírus após minimizar pandemia

'Estou perfeitamente bem', afirmou presidente, ao anunciar resultado positivo para Covid-19

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro, 65, afirmou nesta terça-feira (7) que contraiu o novo coronavírus, após realizar um novo exame para detectar o vírus na segunda-feira (6).

“Estou perfeitamente bem”, afirmou Bolsonaro, ao anunciar, de máscara, o resultado positivo para Covid-19 em entrevista para CNN Brasil, Record e TV Brasil no Palácio da Alvorada.

O presidente decidiu realizar o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse. Em nota, a assessoria do Palácio do Planalto disse que Bolsonaro "mantém bom estado de saúde".

Bolsonaro usando máscara e cercado por microfones
Jair Bolsonaro anuncia em entrevista que contraiu o novo coronavírus - Reprodução

​Desde o início da crise mundial do coronavírus, Bolsonaro tem dado declarações nas quais busca minimizar os impactos da pandemia e, ao mesmo, tratar como exageradas algumas medidas tomadas no exterior e por governadores de estado no país.

Ele também provocou aglomerações, muitas vezes sem uso de máscara recomendada para evitar o contágio da Covid-19.

Bolsonaro aproveitou o anúncio do seu teste para Covid-19 para defender o uso da hidroxicloroquina como medicamento eficaz para o tratamento da doença, mesmo sem que ainda exista comprovação científica do remédio. Ele afirmou que está tomando a droga.

"Resolvi, com esses sintomas, e o médico da Presidência apontando para a contaminação pela Covid-19, fomos fazer uma tomografia no hospital das Forças Armadas em Brasília. Os pulmões estavam limpos, ou seja, não tinha nada de opaco, dando sinal positivo. Mas dado os sintomas a equipe médica resolveu aplicar a hidroxicloroquina, também a azitromicina", disse Bolsonaro.

"Confesso a vocês, estou perfeitamente bem. Estou tomando medidas protocolares, para evitar contaminação de terceiros. Isso cabe a todo cidadão brasileiro", complementou. O Palácio do Planalto divulgou cópia do resultado do exame.

Bolsonaro declarou ainda que teve cansaço, febre e um pouco de dor muscular. De acordo com ele, se tivesse apenas tomado a hidroxicloroquina de forma preventiva, ele estaria bem e "sem esboçar qualquer reação". Ainda segundo o presidente, na manhã desta terça sua febre baixou para cerca de 36,7°C.

Exame do presidente divulgado pelo Planalto
Exame do presidente divulgado pelo Planalto - Reprodução

Apesar de ter louvado a cloroquina, a eficácia da substância é questionado por diferentes especialistas e a OMS (Organização Mundial da Saúde) resolveu interromper estudos sobre o uso do remédio para o tratamento da Covid-19 .

"Esse vírus é quase como uma chuva, vai atingir você", acrescentou Bolsonaro.

"Alguns tem que tomar um maior cuidado com esse fenômeno. Acontece, infelizmente acontece. Repito, as pessoas de certa idade, que têm problema de saúde ou comorbidade, uma vez contaminada a chance de óbito aumenta bastante. Isso tem que ser evitado, [por isso] a gente fala do isolamento vertical.", disse.

Referindo-se à decisão do STF que deu a estados e municípios competência para adotar medidas de contenção do vírus, o presidente disse ter sido alijado do poder de definir políticas de isolamento.

Durante o anúncio, mesmo com mais de 65 mil mortes confirmadas no Brasil, Bolsonaro disse entender que houve um "superdimensionamento" da doença.

Ao final da entrevista, o presidente se afastou dos repórteres que estavam no local e tirou a máscara para, segundo ele, mostrar que se encontra em bom estado de saúde.

"Vamos tomar cuidado, em especial os mais idosos, que têm comorbidade. E os mais jovens, tomem cuidado. Mas se forem acometidos do vírus, fiquem tranquilos porque, para vocês, a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero."

Bolsonaro tirando a máscara do rosto
O presidente Jair Bolsonaro retira a máscara durante entrevista em que confirmou ter contraído coronavírus - Reprodução/TV Brasil/AFP

Bolsonaro havia comentado sobre a realização do teste na tarde de segunda, ao chegar no Palácio da Alvorada e conversar com simpatizantes.

"Eu vim do hospital, fiz uma chapa do pulmão, tá limpo o pulmão. Vou fazer exame do Covid agora há pouco, mas está tudo bem", disse Bolsonaro. As suas declarações foram transmitidas por um canal bolsonarista no YouTube.

Ao descer do carro na ocasião, ele pediu que as pessoas no local não se aproximassem. "Não é para chegar muito perto não, recomendação aí para todo mundo."

Bolsonaro disse à CNN Brasil na tarde de segunda que estava com 38ºC de febre e 96% de taxa de oxigenação no sangue. Ele afirmou ainda que estava tomando hidroxicloroquina.

Bolsonaro cancelou sua participação presencial em eventos nesta semana, entre eles a reunião do conselho de governo que tradicionalmente ocorre às terças-feiras.

Ele também relatou a aliados que deve realizar videoconferências nesta semana para evitar o risco de contágio caso tenha sido contaminado.

Segundo a agenda oficial do Planalto, o presidente esteve na segunda com o presidente do Inmetro, Marcos de Oliveira Junior, com o vice-presidente de assuntos de segurança da NTC&Logística, Roberto Mira, e com o secretário especial de Cultura, Mario Frias.

Ele também teve agendas com os ministros Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e José Levi (Advocacia-Geral da União).

Alguns ministros que estiveram com Bolsonaro na segunda já realizaram exames da Covid. Ramos e Braga Netto fizeram o chamado teste rápido e o resultado de ambos foi negativo, segundo suas assessorias. Oliveira também fez exame, mas o resultado ainda não foi informado.

O Itamaraty informou que o ministro Ernesto Araújo, que esteve com Bolsonaro no sábado (4), está assintomático e que faria o teste nesta terça. O resultado deve sair em 24 horas.​

​No último fim de semana, Bolsonaro teve agendas em que interagiu e se aproximou de outras pessoas.

No sábado (4), viajou pela manhã para Santa Catarina para sobrevoar áreas afetadas pelo ciclone-bomba e, à tarde, compareceu em um almoço de comemoração da independência americana na residência oficial da embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

Na ocasião, Bolsonaro apareceu em fotos ao lado de quatro ministros e do embaixador americano, Todd Chapman. Nas imagens compartilhadas pelo presidente, os presentes não utilizavam máscara de proteção facial.

Nos protestos de 15 de março, Bolsonaro desrespeitou recomendações do Ministério da Saúde e cumprimentou apoiadores. "Se eu resolvi apertar a mão do povo, desculpe aqui, eu não convoquei o povo para ir às ruas, isso é um direito meu. Afinal de contas, eu vim do povo. Eu venho do povo brasileiro."

Depois, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, o presidente se referiu à Covid-19 como "gripezinha ou resfriadinho".

No último dia 30, a Justiça derrubou decisão que obrigava Bolsonaro a usar máscara ao sair às ruas do Distrito Federal.

O uso da máscara é obrigatório no DF, segundo um decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB). Bolsonaro, no entanto, já participou de diversos atos de seus apoiadores sem máscara.

Antes do teste atual, o presidente teve três resultados negativos em exames para o novo coronavírus, segundo laudos entregues pela AGU (Advocacia-Geral da União) à Justiça.

Os testes foram realizados nos dias 12, 17 e 18 de março e entregues ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, relator da ação em que o jornal O Estado de S. Paulo pedia para o magistrado obrigar o presidente a divulgar os exames.

Nesta terça, a CNN Brasil exibiu a imagem do novo teste de Bolsonaro, desta vez com resultado positivo para Covid-19.

Além dos discursos em que minimizou a gravidade da pandemia, Bolsonaro assinou decretos para driblar decisões estaduais e municipais e manteve contato com pessoas na rua.

Na mais recente medida contrária ao isolamento social, o presidente ampliou nesta segunda os vetos à obrigatoriedade do uso de máscaras. O item de proteção deixa de ser obrigatório em presídios.

Na última sexta-feira (3), Bolsonaro já havia vetado pontos do projeto de lei aprovado pelo Congresso no início de junho, entre eles a obrigatoriedade do uso de máscara em igrejas, comércios e escolas.

Estabelecimentos também não precisarão mais afixar cartazes informando sobre o uso correto do equipamento de proteção.​

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