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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Em busca de um culpado

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De quem é a culpa pela crise dos opioides? A predileção americana por decidir tudo nos tribunais parece ter chegado a uma conclusão. Laboratórios que produzem os analgésicos que deflagraram a epidemia estão sendo processados por estados, condados e municípios. Há mais de 2.500 ações em curso.

Na semana passada, um juiz de Oklahoma condenou a Johnson & Johnson a indenizar o estado em US$ 572 milhões. Em muitos casos, as farmacêuticas preferem fechar acordos e evitar o julgamento. Estima-se que o total de indenizações possa chegar a US$ 40 bilhões, o que ainda seria insuficiente para cobrir os custos com a epidemia, que provocou a morte de 72 mil pessoas por overdose em 2017 e deve ser responsável por mais 500 mil óbitos ao longo da próxima década.

Não há dúvida de que laboratórios estão entre os principais responsáveis pela crise. Foram eles que desenharam os estudos enviesados que levaram à aprovação das drogas e promoveram um marketing que fica entre o criminoso e o irresponsável. É justo que paguem por isso.

É importante, porém, notar que as farmacêuticas não são a única parte com culpa no cartório. A epidemia só adquiriu as proporções que adquiriu porque médicos e até dentistas, contrariando tudo o que se sabia sobre o potencial dos opioides para provocar dependência, prescreveram tão liberalmente essas drogas que elas se tornaram, nos anos 90, a classe de fármacos mais vendida nos EUA.

Reguladores e a própria arquitetura do sistema de saúde americano, que estimula o uso de medicamentos em detrimento de outras abordagens, também têm seu quinhão de responsabilidade.

Assim, se a meta é só encontrar um bode expiatório, condenar os laboratórios funciona bem. Se o propósito, porém, for aprender algo com os erros e evitar crises semelhantes no futuro, então há muito mais roupa suja para ser lavada --e não apenas nos tribunais.
 

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