Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

O que o Universo esconde de nós?

O sucesso da ciência fez com que ficássemos arrogantes e agora exigimos que ela retrate a realidade

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A ciência nos dá descrições da realidade ou é só uma ferramenta que permite fazer previsões acuradas sobre certos fenômenos?

Têm saído tantos livros e artigos sobre a teoria dos muitos mundos que já estou me convencendo de que ela é “real”. Um bom exemplar dessa linha é “Something Deeply Hidden” (uma coisa bem escondida), de Sean Carroll. O livro destrincha questões complicadas da física, como função de onda quântica, emaranhamento e superposição, mas Carroll é bastante didático —talvez até enganosamente didático.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Helio Schwartsman de 17 de setembro de 2021 - Annette Schwartsman

O plano central do autor é nos convencer de que o Universo é composto por uma enormidade de mundos, que se multiplicam cada vez que um evento quântico ocorre. Para Carroll, essa é a interpretação mais direta e menos problemática das equações quânticas, de cuja exatidão não temos dúvida. Ela permite que nos livremos das bizarrices que surgem quando tentamos conciliar essas equações com o que chamamos de realidade. As esquisitices incluem gatos zumbis e a ação fantasmagórica à distância que tanto chocou Einstein. Carroll bate forte na chamada interpretação de Copenhague, que aceita as equações sem se preocupar em harmonizá-las com o mundo que experimentamos em nosso dia a dia.

Não duvido de Carroll nem das equações, mas quero voltar à pergunta com a qual comecei a coluna. Sou agnóstico em relação a ela. Gostaria que a ciência descrevesse a realidade, mas estou pronto a aceitar que ela seja só um instrumento útil. Minha impressão é que estamos diante de um problema de “Zeitgeist”.

Durante a maior parte do século passado, predominaram filosofias como a de Kant, que assevera que as coisas em si, embora existam, são-nos incognoscíveis. Para os físicos criados nesse paradigma, não era um problema ver a ciência como mera ferramenta. Mas o sucesso da ciência fez com que ficássemos arrogantes e agora exigimos que ela retrate a realidade. Talvez o faça, talvez não.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas