Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Século 17 teve o seu Telegram; era a Holanda

A melhor defesa contra más ideias é, desde a Antiguidade, ideias melhores

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

"Free Speech", de Jacob Mchangama, é um livro importante. Ele conta a história da liberdade de imprensa desde Sócrates até hoje. O que salta aos olhos é a regularidade dos padrões. Quando se trata de defender seu próprio direito de dizer o que pensa, as pessoas são maximalistas. Mas, quando se deparam com ideias de que não gostam, vêm as queixas contra os excessos da liberdade de expressão e a proliferação de "notícias falsas" (esse termo tem mais milhagem histórica do que se poderia supor).

O caso mais gritante talvez seja o do poeta inglês John Milton. Ele é reconhecido como um dos campeões da liberdade de expressão por tê-la defendido com veemência em seu "Aeropagitica" (1644). Menos mencionado é que, alguns anos depois, Milton se tornaria ele próprio um censor. Também beberam das águas da incongruência censória Voltaire, Robespierre, John Adams, entre outros. Nem instituições escapam. A Igreja Católica passou de minoria religiosa oprimida a editora do "Index Librorum Prohibitorum".

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman deste domingo (24.abr) na Folha - Annette Schwartsman

E, se a repetição do padrão geral já chama a atenção, ela se torna assustadora quando comparamos nossa época de internet e redes sociais aos dois séculos que se seguiram à invenção da imprensa. Em ambos os casos, adventos tecnológicos deram um tremendo impulso à circulação de ideias, às tentativas de censura e à radicalização. O século 17 teve até o seu Telegram. Era a Holanda, onde se imprimiam os textos proibidos nos outros países. Eles eram depois contrabandeados até os leitores.

Mchangama é convincente ao sustentar que devemos resistir à tentação de censurar adversários. Não é que as modernas fake news sejam inócuas. Mentiras podem provocar grandes males. Mas o autor vê um certo pânico moral na importância, não corroborada pelos estudos acadêmicos, que atribuímos a elas. Fake news não vencem eleições.

A melhor defesa contra más ideias é, desde a Antiguidade, ideias melhores.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas