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O que a Folha pensa jornalismo

A mensagem do Nobel

Premiação é um ato a favor do jornalismo livre, crítico e baseado nos fatos

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A jornalista filipina Maria Ressa - Ted Aljibe/AFP

Em momento de ascensão de autoritarismos em diversas partes do mundo, constitui marca importante a concessão do Prêmio Nobel da Paz a dois jornalistas que, nas condições mais adversas, souberam defender pilares que sustentam as sociedades civilizadas.

Anunciada nesta sexta-feira (8), a láurea coube à filipina Maria Ressa e ao russo Dmitri Muratov por, nas palavras do comitê sueco, “sua corajosa luta pela liberdade de expressão, que é precondição para a democracia e a paz duradoura”.

Coragem, de fato, sobeja na trajetória dos dois jornalistas.

Por meio do Rappler, a empresa de mídia digital que ajudou a fundar, Ressa se notabilizou por revelar casos de corrupção envolvendo expoentes do governo de seu país.

Foi, ademais, uma voz pioneira a denunciar os abusos da insana guerra às drogas encampada pelo presidente filipino, Rodrigo Duterte, que nos últimos anos deixou mais de 12 mil mortos.

As consequências que amargou por seu trabalho não foram poucas. Em 2019, Ressa foi detida sob a acusação de violar uma controversa legislação contra “difamação cibernética”. Atualmente, está proibida de deixar as Filipinas.

Muratov, por sua vez, foi um dos fundadores da Novaia Gazeta, hoje a única publicação russa que, num cenário de asfixia estatal à imprensa, permanece abertamente crítica ao governo de Vladimir Putin.

Nas últimas décadas, ele vem enfrentando não só a repressão, mas também a violência, por vezes homicida. Seis colegas de trabalho de Muratov já foram assassinados desde 2001.

Embora o prêmio chame a atenção para o cotidiano ominoso existente na Rússia e nas Filipinas, o panorama mundial tampouco se mostra auspicioso. Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, o livre exercício do jornalismo é cerceado total ou parcialmente em 73% dos 180 países avaliados.

No Brasil, como se sabe, Jair Bolsonaro adota como hábitos políticos a hostilidade à imprensa, a pressão sobre anunciantes e a promoção de notícias falsas.

Mais do que uma homenagem a Ressa e Muratov, o Nobel da Paz deste ano pode ser entendido como um ato a favor do jornalismo livre, crítico e baseado em fatos.

editoriais@grupofolha.com.br

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