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Jornalista, mestre em Estudos da China pela Academia Yenching (Universidade de Pequim) e em Assuntos Globais pela Universidade Tsinghua

Descrição de chapéu China Eleições nos EUA

Vice de Kamala pode fazer China preferir Trump nas eleições dos EUA

Democrata Tim Walz já defendeu sanções a Pequim sob justificativa de violações aos direitos humanos

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Ao longo de todo o último ano, fiz a mesma pergunta sempre que eu me encontrei com diplomatas ou oficiais governamentais chineses: Trump ou Biden? Qual deles seria melhor para as relações entre China e Estados Unidos?

Alguns tergiversaram, outros mencionaram a imprevisibilidade de uma potencial vitória republicana, mas, em sua maioria, a resposta que eu mais ouvi foi a de que "ambos trazem desafios". "Diferentes, mas ainda assim desafios."

Candidato democrata à vice-presidência, governador do Minnesota, Tim Walz, fala durante um evento de campanha em Michigan - Elizabeth Frantz - 9.ago.24/REUTERS

Não é uma resposta surpreendente. Trump acelerou uma tendência de competição entre os dois países, adicionou uma boa dose de xenofobia na mistura, mas, em geral, teve políticas muito menos agressivas do que o seu sucessor democrata.

Biden instrumentalizou a rivalidade, deu a ela corpo e pessoal dedicado e, em geral, pode até ter sido mais polido, mas foi um presidente mais danoso para os laços sino-americanos.

Mas esta coluna foi escrita em agosto. Biden não é mais candidato e só lhe restam alguns meses na cadeira de presidente.

Kamala Harris é uma incógnita no que tange à política externa e, com a corrida atual, só nos resta especular através de outros elementos o que cada candidato planeja para esta que é a relação mais importante do mundo nos dias atuais.

Trump já deu indicativos de que se importará menos com a questão taiwanesa. Em entrevista, com sua lógica de transação e desconectada da realidade, chegou a dizer que Taipé deveria ressarcir os EUA pela proteção que Washington provê à ilha. Uma falácia, claro —Taiwan gasta bilhões de dólares com compras frequentes de armamentos americanos—, mas ainda assim, música para os ouvidos em Pequim.

Vamos nos atentar então à escolha dos vices. Ao ser escolhido como companheiro de chapa, o senador novato de Ohio se tornou herdeiro natural do trumpismo. Como é praxe em ambos os lados ideológicos, J.D. Vance é bastante combativo em relação a Pequim, mas a maioria de suas críticas se atém a questões econômicas: a perda de postos de trabalho em solo americano em favor das linhas de montagem na China, a competição desigual dos produtos chineses, etc.

No todo, porém, Vance é um isolacionista tal qual Trump. Advoga pelo fim da ajuda militar à Ucrânia e não dá nenhum indicativo de que apoiaria um envolvimento militar americano para resgatar Taiwan se a China seguisse os mesmos passos da Rússia.

É quase a antítese do velhinho bonachão escolhido pelos democratas para vice na chapa com Harris. Tim Walz, um governador virtualmente desconhecido no cenário nacional, tem envolvimento pessoal com questões chinesas.

Ele foi professor de inglês em Guangdong na década de 1980, tinha uma empresa de intercâmbio que levava estudantes para o país asiático no verão, esteve com manifestantes da Praça da Paz Celestial em 89 e ao longo da vida tirou fotos sorridentes ao lado do dalai-lama e de Joshua Wong, o estudante que liderou os protestos em Hong Kong em 2019.

Walz passou anos como congressista central na Comissão Executiva sobre a China e foi um dos principais defensores de sanções ao país asiático sob a justificativa de violações aos direitos humanos por lá. Sua ligação com os eventos chineses é tão grande que escolheu o 4 de junho, data do massacre na Paz Celestial, para se casar —disse que queria ter uma data com a esposa que jamais fosse esquecer.

Se os chineses estavam em dúvida sobre quem seria o melhor vencedor para seus interesses e se a escolha de vices for um indicativo para o que cada candidato pensa em termos de política externa, Trump pode despontar como claro favorito na preferência em Pequim.

Mas como as coisas não são preto e branco, há por lá quem acredite que, por conhecer intimamente a China, Walz possa orientar Kamala a políticas mais racionais e menos beligerantes. Dado seu histórico pregresso com a questão, tendo a duvidar.

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