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Economista, mestre em filosofia pela USP.

O que se pode dizer do novo governo Lula?

Maioria das áreas tem progresso inegável, mas da economia podem vir os desastres da nova gestão

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Um governo solidamente petista e que prioriza a governabilidade, com espaço reduzido para a frente ampla. Isso não é uma crítica, é uma descrição do que vemos. Ele se parece muito mais com um governo do PT do que com um governo de união das forças democráticas e da sociedade civil.

Para a maioria das áreas, é um progresso inegável. Camilo Santana, Nísia Trindade e Marina Silva são um respiro de ar puro depois da terra arrasada que o governo Bolsonaro deixou em suas pastas. Um país que prioriza o ensino básico, que retoma a vacinação universal —perigosamente negligenciada nos últimos anos— e que protege seus biomas. Se forem bem-sucedidos, deixarão um legado importante.

O presidente Lula posa para foto oficial com seus ministros no domingo (1º) - Eduardo Anizelli/Folhapress

Com número significativo de ministros do PSD, MDB, PSB, PDT e União Brasil, podemos dizer a que a política voltou a Brasília pela porta da frente. No início de seu governo, Bolsonaro se colocara frontalmente contra a negociação de cargos. Compor com partidos no Congresso era, por si só, algo similar à corrupção. Quem governaria seria o "povo na rua" exigindo as bandeiras anunciadas pelo capitão. Foi um fracasso total, e o Congresso apenas se fortaleceu. Quando mudou de postura, Bolsonaro entregou cargos e orçamento ao centrão da forma menos transparente possível.

Outra marca do governo Bolsonaro que, felizmente, não vemos: cargos dados a ideólogos e falastrões sem qualquer competência para suas pastas. Não há nada próximo de Ernesto Araújo, Weintraub, Milton Ribeiro, Onyx Lorenzoni, Osmar Terra, Damares. Ao longo do governo Lula, imagino que haverá muito o que discutir sobre, digamos, a política educacional do MEC, mas será uma discussão sobre políticas públicas, não sobre se as universidades traficam drogas ou se gays atentam contra a família. A política voltou e saiu do hospício.

A "frente ampla" ficou mais estreita e está representada em Simone Tebet, Marina Silva e Geraldo Alckmin. É pouco, e muito se espera deles, especialmente Tebet e Alckmin. É da economia, afinal, que podem vir os maiores desastres da nova gestão.

Empresas estatais e bancos públicos inspiram mais preocupação. Já era esperado que não veríamos privatizações. Mas, dentro de um horizonte de gestão estatal, há toda uma gama de possibilidades: desde uma gestão eficiente e que busca seguir os sinais do mercado a uma gestão politizada que submete as empresas a uma agenda de curto prazo. Petrobras baixando o preço dos combustíveis para agradar consumidores e segurar a inflação e bancos públicos emprestando a juros baratos e sem critério para estimular a economia são receita para a volta da crise.

Verdade seja dita: até agora, as entrevistas e falas de Haddad têm ido na direção certa: equilíbrio fiscal, parcerias público-privadas, reforma tributária. Aliás, há nomes do PT e de partidos próximos que representam essa esquerda moderna, que sabe ser pragmática e moderada. Rui Costa e Flávio Dino estão nessa lista também.

Só não se sabe até que ponto essas falas realmente determinarão o rumo do governo. Haddad queria encerrar a isenção fiscal da gasolina já no início do mandato, medida impopular mas que já mostrava compromisso com as contas públicas. Lula decidiu estendê-la por pelo menos mais dois meses.

A economia é uma pasta importante, não a única. Não tenho dúvidas de que estaremos melhor na Saúde, na Educação, no Meio Ambiente, nas relações internacionais. Mas, se não se evitar os piores erros na economia, ela pode puxar todas as outras para o buraco.

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