Siga a folha

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

Descrição de chapéu jornalismo mídia

O golpe nas entrelinhas

Militares vão a público para reforçar os recados que a mídia não quer passar

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Saiu o relatório dos militares sobre as urnas eletrônicas. Não houve fraude, escreveu-se aqui e no exterior. "Caso encerrado", sentenciou a Folha em editorial. Faltou combinar com os que habitam quartéis e os que acampam em volta deles. Em mais uma semana de leitura dos fatos atenuada pela mídia, integrantes das Forças Armadas vieram a público pelo menos quatro vezes para reforçar os recados que querem passar: não dá para verificar se houve fraude nas eleições, as preocupações dos manifestantes vestidos de Neymar são legítimas, o Judiciário extrapola.

Na quarta-feira (9), junto com o relatório que de fato não constatou fraude, Paulo Sérgio Nogueira enviou ofício ao tribunal eleitoral no qual afirmava que ela era possível. Um código malicioso poderia ser inserido no sistema e isso não seria verificável, alegou o ministro da Defesa. Folha e O Estado de S.Paulo matizaram seus títulos em primeira versão, mas logo abandonaram qualquer ponderação. Um taxativo "não aponta fraude" prevaleceu nos dois jornais. O Globo foi pior, tratando como sujeito o TSE, que "recebeu com satisfação relatório da Defesa que não aponta fraude".

O descompasso fez Paulo Sérgio soltar nota na quinta-feira (10) para sublinhar que a possibilidade de fraude não havia sido descartada. No Estadão, Hamilton Mourão escreveu que democracia é "palavra distorcida pela grande imprensa e cerceada pelo Poder Judiciário". O senador eleito ainda se solidarizou "com o profundo sentimento de inquietação e de inconformismo que vai tomando as ruas e praças".

Na sexta-feira (11), o mesmo Estadão antecipou nota conjunta das três Forças, pela qual restrições a direitos, por parte de agentes públicos, eram tão condenáveis como excessos cometidos em manifestações. Ao noticiar o comunicado, a Folha concluiu que, ao defender a solução de controvérsias dentro do Estado democrático de Direito (as quatro linhas da Constituição?), os comandantes estavam descartando um golpe militar para anular as eleições. O jornal passou batido, no entanto, pelo primeiro parágrafo da nota, em que as Forças se dizem "sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história" (moderadoras como na interpretação equivocada do artigo 142?). Camufladas, as entrelinhas quiseram ser eloquentes.

Não há caso encerrado aqui, longe disso. É imperativo evidenciar a recusa dos militares em pôr uma pedra no assunto. Se o governo eleito dá razões para a mídia martelar que é preciso ser claro sobre controle fiscal, seria bom usar parte dessa indignação para alertar os quartéis que é preciso ser claro também na hora de negar golpismo. Teto é importante, mas só se existir chão.

Padrão secreto

A Folha virou notícia no começo deste mês quando sites e redes sociais mostraram que o jornal alterou título e texto de uma reportagem de serviço sobre orçamento secreto. "Saiba o que é e como funciona o orçamento secreto", publicado em 8 de setembro, virou "Saiba o que é e como funciona a emenda de relator" em 17 de outubro. A data da modificação, porém, só apareceu no texto do jornal depois que a história ganhou corpo agora em novembro. Qual história? A de que a Folha teria alterado seu padrão a partir da perspectiva de um governo Lula. Pela tese, se orçamento secreto era usado para bater em Jair Bolsonaro, emenda de relator seria um eufemismo para aliviar o noticiário para o petista.

Não ajudou o jornal ter dado uma resposta seca no Twitter: "A Folha sempre usou emendas de relator em sua cobertura noticiosa. O termo orçamento secreto é usado por colunistas de opinião". Faltou dizer que o tal texto foi alterado para se adequar ao exótico porém verdadeiro padrão vigente do jornal. Faltou explicar a razão para tamanho prurido.

Segundo a Secretaria de Redação, "orçamento secreto não é um termo preciso para classificar as emendas de relator em texto noticioso". "Esses gastos estão registrados e podem ser verificados no sistema de execução orçamentária, embora não obedeçam a critérios objetivos de distribuição." Que os leitores julguem o argumento para o veto à expressão, realmente rara em títulos da Folha como se vê na busca do site.

É forçoso constatar, no entanto, que abdicar do termo orçamento secreto, um furo do Estadão, a esta altura do campeonato, é equivalente a abrir mão de escrever rachadinha, por exemplo. Não faz sentido.

Voto secreto

Finda a festa da democracia, a Folha, em comunicado interno, avisou seus colunistas sobre alteração no verbete do Manual da Redação que os contempla. Ficam proibidos o proselitismo eleitoral e as manifestações de voto, prática que se generalizou nestas últimas eleições. Quem achar que precisa fazê-lo terá como opção publicar artigo avulso em Tendências / Debates.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas