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O óbvio sobre a urna

Defesa não vê fraude, e fim do caso possibilita a acomodação institucional

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Funcionária do TSE faz a lacração das urnas eletrônicas - Rivaldo Gomes/Folhapress

Em 31 de agosto de 2021, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, fez valer uma resolução aprovada dois anos antes e convidou militares para integrar uma Comissão Externa de Transparência que fiscalizaria a eleição deste ano.

Era a época de uma das mais intensas sístoles do golpismo bolsonarista, antes do 7 de Setembro de multidões nas ruas. Barroso achou que desarmaria a campanha contra as urnas eletrônicas.

O efeito foi contrário, e questionamentos enviados pelo Ministério da Defesa se tornaram munição para ataques infundados ao processo eleitoral. Após uma crise militar em reação a tentativas de Jair Bolsonaro (PL) de instrumentalizar as Forças Armadas, a pasta mostrava-se aliada ao chefe.

Cumpre, nesse caso, diferenciar o ministério, o serviço ativo das Forças e a usualmente radical reserva fardada. Na cúpula do Exército, por exemplo, nunca houve apoio majoritário aos arroubos de Bolsonaro contra as instituições.

Assim se chegou ao nanismo do relatório enfim entregue na quarta-feira (9) sobre o sistema eletrônico de votação. A Defesa o isenta de fraudes ou falhas graves, enterrando o discurso golpista como muitos generais gostariam.

Mas o diabo gosta de detalhes, e eles abundam na forma de dúvidas colocadas sobre o quão auditável é o processo. Nada que mude a conclusão, mas sinaliza que a pressão de Bolsonaro por um texto mais contundente logrou ao menos alimentar a retórica de redes sociais e portas de quartéis. É lamentável.

Para piorar, nesta quinta (10) a Defesa se prestou, em nota, a um malabarismo retórico segundo o qual a ausência de fraude não implica sua inexistência.

O fato incontornável é que não restou um fiapo de argumento capaz de sustentar algum questionamento ao resultado eleitoral, e o próprio Bolsonaro —cuja votação o mantém, em tese ao menos, como ator político relevante— parece ter compreendido a inutilidade de qualquer esperneio.

Não por acaso, as conclusões da Defesa mereceram resposta rápida e sagaz do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, dando o caso, na prática, por encerrado.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vinha mantendo silêncio prudente, defendeu os militares do que considerou uma manipulação bolsonarista. Se não houver mais marola, o campo está semeado para uma acomodação.

Fundamental para tanto será a escolha do novo ministro da Defesa e a aplicação de critérios de antiguidade básicos para os comandos de Força. Dos militares, espera-se apenas o que juram fazer: respeitar a Constituição, deixando o palco que ocupam desde 2019.

editoriais@grupofolha.com

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