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Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Descrição de chapéu Onde se fala português

Cidadania da língua: a surpreendente eficiência da imigração no Brasil

Pesadelo de que tantos brasileiros se queixam em Portugal não encontrou eco na megalópole de São Paulo

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Normalmente a notícia é ao contrário. A fila e a ansiedade ficam em Lisboa ou nos consulados portugueses no Brasil, que atendem aos muitos milhares de brasileiros que hoje vivem na esperança de poder ir morar na terrinha.

Muitos dados oficiais confirmam essa tendência, refletida no aumento do número de voos comerciais entre os dois lados do Atlântico (mais de 150 por semana) e na percepção que sentimos falando com pessoas anônimas na rua. CEOs, investidores, estudantes, famílias inteiras e aventureiros funcionais, entre outros migrantes, atestam esse movimento de contracolonização.

Mas o processo não é em sentido único. A entrada em vigor da portaria interministerial que regulamenta a obtenção de visto e de autorização de residência a nacionais dos países-membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) traz também ao Brasil muitos falantes de português de outras paragens.

Colunista renova permissão para morar no Brasil e se surpreende com atendimento prestativo e rápido na Polícia Federal, em São Paulo - Instagram

No caso, um deles, eu. A experiência que vivi ao visitar a sede da Polícia Federal em São Paulo para verificar se essa "cidadania da língua " —à qual tanto tempo e esforço tenho devotado— funciona foi um sucesso impressionante.

Escolho com cuidado a palavra "impressionante" pois tenho os ouvidos cheios das queixas dos brasileiros que enfrentam as filas da agência portuguesa de imigração. Eles distribuem nos escaparates televisivos e nas bancas de jornais horrores de múltiplas lamentações sobre a forma como os imigrantes brasileiros em Portugal são acolhidos.

Relativizo esses relatos porque também sei que as notícias se alimentam do que é raro e disruptivo. O homem que morde o cão é sempre objeto de mais atenção do que o canídeo que, mesmo no cumprimento da sua função de guarda, ferra uma dentada em um passante mais distraído.

Mas voltemos ao impressionante. Os fatos são fluídos e vale a pena gastar meia prosa na sua explanação. Cheguei à hora marcada, 8h30, munido dos papéis necessários e logo temi o pior quando vi a fila se estendendo pela rua. Mas era uma equivocada presunção.

O agendamento feito online quase um mês antes juntou-me a um grupo de pessoas de Angola, da China, do Líbano, da Venezuela e de muitas outras nacionalidades que como eu viram os minutos passar depressa e todo o mundo atendido com uma diligência escandinava.

Em menos de meia hora passei as duas triagens e fui colocado na frente de um verdadeiro anjo na Polícia Federal. Yasmine.

Uma vez li, em um livro do escritor francês Louis Ferdinand Céline, que não seria disparate nenhum que houvesse alguma coisa que distinguisse os bons dos maus. Algum sinal físico, alguma distinção. Ou uma inspiração.

Era o caso de Yasmine. Ela me recebeu com tanta simpatia e profissionalismo que, sentado na cadeira 30 do atendimento a promitentes imigrantes à República Federativa, na delegacia da Polícia Federal na Lapa, zona oeste da capital, quase me senti imortal.

O pesadelo de que tantos brasileiros se queixam em Portugal não encontrava nenhuma eco na megalópole de São Paulo. E, menos de duas horas depois, o vosso colunista saía à rua autorizado a morar no Brasil.

Quando me despedi da jovem Yasmine, ela ainda esboçou um desagrado, pela forma como algumas coisas ainda não irem tão bem…

Descansei-a. E enquanto, mais uma vez, lhe expressei a minha gratidão, senti uma enorme alegria por também poder morar neste extraordinário Brasil.

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