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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Tite deixou de ser novidade e patina nas decisões tomadas

O técnico da seleção brasileira está na dependência de pessoas inconfiáveis

Tite entrega a bola a Alex Sandro durante o amistoso da seleção brasileira com a República Tcheca, em Praga - Joe Klamar-26.mar.19/AFP

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Primeiramente, é preciso dizer, como falavam nossas avós, sua alma, sua palma.

Tite escolheu ser treinador da CBF mesmo depois de ter assinado um manifesto pela renúncia de Marco Polo Del Nero e pela democratização na entidade.

Ao aceitar o posto, chegou a beijar, ou a ser beijado, pelo então presidente da Casa Bandida do Futebol, numa cena desnecessária para quem chegava como salvador de pátria.

Pátria que salvou, diga-se a bem da verdade, ao cumprir trajetória mais que perfeita nas eliminatórias para a Copa da Rússia, tanto do ponto de vista dos resultados quanto da qualidade de futebol apresentado.

Na Copa propriamente dita não se pode dizer o mesmo, embora a participação brasileira não tenha sido um fiasco e a eliminação, diante da Bélgica, acontecida num dos melhores jogos do torneio.

Em Sochi, o balneário erradamente escolhido pelos estrategistas da CBF, os problemas começaram a acontecer a olhos vistos, com privilégios inaceitáveis, já sem a presença do Marco Polo que não viaja.

Papai Neymar agia como eminência parda e o filhote tinha tratamento especial.

Tite é boa pessoa e é fácil exigir sacrifícios com pescoço alheio. Dizer não ao cargo mais cobiçado entre os treinadores do mundo é para poucos —e Muricy Ramalho, por paus ou por pedras, acabou sendo um—, e exigir coerência deve começar sempre por nós mesmos, embora, repita-se, tudo teria sido menos 
complicado caso Tite não tivesse assinado o manifesto.

Só que o pior veio no pós-Copa. Mantido no topo da seleção pelo beneficiado do Golpe Caboclo, Tite deixou de ser novidade, viu seu time fazer apenas apresentações pífias, sentiu o peso do desgaste de imagem exageradamente exposta e, pior, começou a passar a mão na cabeça de Neymar, o capitão que não capitaneia, só dá vexame.

Já foi expulso com jogo terminado, já virou meme na Copa e agora deu para socar torcedor. Inimaginável para Hideraldo Luiz Bellini, Mauro Ramos de Oliveira e Cafu, os capitães de 1958/62 e 2002.

Imaginável para Carlos Alberto Torres e Dunga, os das Copas de 1970 e 1994, também de pavio curto, mas que nunca cometeram tamanha covardia.

“Tô errado. Estou. Mas ninguém tem sangue de barata”, nem se desculpou o craque, cujo tipo de sangue é menos importante do que o cérebro de ameba. Porque ainda teve o desplante de puxar as orelhas dos jogadores jovens do PSG depois da derrota na final da Copa da França para o pequenino Rennes.

Disse que eles precisavam ouvir mais e falar menos, se espelhar nos veteranos.

Como Neymar fez em seu começo no Santos? Como quando, nove anos atrás, aos 18, desrespeitou publicamente o técnico Dorival Júnior e ouviu do treinador adversário, Renê Simões, que “estamos criando um monstro”?

Exatamente aí reside o problema de Tite. Seguirá dispensando tratamento principesco ao Peter Pan? Se resolver aplicar-lhe um corretivo, terá respaldo de seus superiores para punir o Pequeno Príncipe?

Papai Neymar seguirá no papel de eminência parda para que Caboclo e o secretário-menor ponham panos quentes?

Já não passou da hora de vir a público repudiar a agressão do pugilista peso filé de borboleta? Ora, que os cartolas que nos assolam se submetam aos caprichos e grosserias da dupla Neymar é compreensível.

Vivem disso e de bajular os poderosos. Mas Tite nunca foi assim. Corre o risco de virar Geni.

“Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir!”.

Tomara que não.

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