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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Tri em 70 é a chegada do homem à Lua para história do futebol

Segundo tempo da final foi dos maiores espetáculos já vistos, não só na Terra

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O homem pisou na Lua pela primeira vez em 20 de julho de 1969.

E eu, se tivesse um mínimo de vergonha na cara, teria dito ao editor de Esporte que não escreveria neste domingo, 21 de junho, quando se comemora o 50° aniversário da conquista definitiva da Copa Jules Rimet.

Porque todo o espaço tinha de ser de quem esteve lá, dentro de campo, e participou da vitória por 4 a 1 sobre a Itália.

É claro, estou falando do vizinho de coluna no jornal impresso, estou falando de Tostão.

O que posso acrescentar perto do que ele tem a dizer?

Devo responder à clássica pergunta, “onde você estava quando o Brasil ganhou o tri?”.

Bem, eu começava a vida de jornalista, no departamento de documentação e pesquisa da Editora Abril, o Dedoc, exatamente para atender à revista Placar, que havia nascido em março de 1970.

Vi o jogo na casa de meus pais e fui para a redação, no edifício Abril, na marginal do Tietê. São Paulo era uma cidade em festa, assim como o Brasil era um país em festa.

O fato de o astronauta Neil Armstrong ter dado “um pequeno passo para o homem, um passo gigante para a humanidade” quase exatos 11 meses antes não tinha mais a menor importância, diante dos passes geniais de Tostão, Gérson, Rivellino e do Rei Pelé.

Em dezembro de 1968, em sua edição de número 33, a histórica, e revolucionária, revista Realidade, da Abril, publicara reportagem com foto de abertura que reunia Tostão, Gérson e Rivellino.

O título era provocador, em pleno mês da edição do famigerado AI-5 pela ditadura: “Nestas esquerdas o Brasil confia”, referência, obviamente, à coincidência de o trio ser canhoto. Pelé é ambidestro e por isso ficou de fora.

Após a conquista da Copa de 1970, a torcida invadiu o campo e Pelé foi carregado, noma cena que ficou imortalizada na história dos Mundiais - 21.jun.1970/Xinhua

Discutia-se às vésperas da Copa no México se a vitória da seleção não seria aproveitada pelos militares e havia quem jurasse que torceria contra o Brasil, diante de abjetas campanhas que pregavam “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”, “Ninguém segura este país”, etc.

Bastou Rivellino, ao bater falta, de esquerda, empatar o jogo de estreia contra a Tchecoslováquia, da órbita comunista, para que as intenções se desvanecessem num enorme grito de gol, do Oiapoque ao Chuí, como se dizia então sobre os pontos geográficos mais extremos do país, do norte e do sul.

Anos depois revelou-se ser no Monte Caburaí, em Roraima, o ponto mais setentrional, embora o Chuí se mantenha como tal.

Por misteriosa razão não se usa a expressão do Caburaí ao Chuí, que até rima.

Como percebem a rara leitora e o raro leitor, o 4 a 1 está presente apenas como pano de fundo destas linhas, porque interessante mesmo está a coluna de Tostão.

Ah, sim, até os presos políticos comemoravam as vitórias brasileiras, pois o sanguinário general Emílio Garrastazu Médici não jogava —só mandava prender, torturar e matar os opositores.

Dilma Rousseff viu a Copa na Torre das Donzelas, a ala onde ficavam as mulheres presas no presídio Tiradentes, em São Paulo, e conta que não teve dúvida em torcer pelo seu país.

Além do mais, imagine, ainda lembrando o jogo de estreia, o tcheco que fez 1 a 0, Ladislav Petrás, ao comemorar o gol se ajoelhou e fez o sinal da cruz, para decepção dos ateus.

“Que raio de comunista é ele?”, perguntavam.

Ao chegar ao fim desta coluna que não deveria ter escrito, afirmo: o segundo tempo da final da Copa foi dos maiores espetáculos já vistos na Terra. E na Lua.

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