​Vítor Manuel de Oliveira Lopes Pereira, 53, chega ao Corinthians, com nome quase do tamanho dos da realeza, disposto a repetir o sucesso de seus patrícios, os plebeus Jorge Fernando Pinheiro de Jesus e Abel Fernando Moreira Ferreira, no Flamengo e no Palmeiras, respectivamente.

Dez anos mais velho que Abel Ferreira, e 14 mais moço que Jorge Jesus, Vítor Pereira foi bicampeão português pelo Porto, em 2012/13, campeão grego pelo Olympiacos, em 2015, e chinês pelo Shanghai, em 2017.

Assume o segundo clube mais popular do Brasil assim como o também conterrâneo Paulo Manuel Carvalho Sousa, 51, assumiu o primeiro, o Flamengo.

Com o que, dos quatro clubes de maiores torcidas no Patropi, só o São Paulo tem um treinador brasileiro.

É uma invasão para o navegante Pedro Álvares Cabral não botar defeito e para pôr à prova, mais uma vez, se o fidalgo escrivão Pero Vaz de Caminha estava certo ao dizer que, aqui, em se plantando, tudo dá.

Jorge Jesus mostrou o caminho de um jeito extraordinário, Abel Ferreira o confirmou a seu modo mais conservador e caberá a Vítor Pereira comprovar.

Material humano não faltará no Parque São Jorge, como não faltou na Gávea nem no Parque Antarctica.

Ladino, Pereira exigiu fazer contrato curto, só até dezembro.

Se obtiver sucesso, cravará ainda mais a faca nas combalidas finanças alvinegras para renovar. Se não, voltará para a Terrinha como já voltaram malsucedidos Ricardo Sá Pinto, do Vasco, Jesualdo Ferreira, do Santos, António Oliveira, no Athletico Paranaense, Paulo Bento, do Cruzeiro etc.

Para não falar de Jorge Gomes da Silva, o Joreca que, na década de 1940, dirigiu tanto o Corinthians, em 1949, como o São Paulo, onde foi campeão paulista em 1943, 1945 e 1946, além de ser jornalista e árbitro, tendo apitado a célebre estreia de Leônidas da Silva no São Paulo, empate de 3 a 3 com o Corinthians, com o maior público da história do Pacaembu, mais de 71 mil torcedores, em 1942.

Um dos traços marcantes do novo técnico corintiano é o de trabalhar a base, algo essencial em clubes endividados que precisam economizar nas contratações e revelar jogadores para fazer dinheiro e minimizar o deficit.

Acontece que o alvinegro já fez as contratações e seu time é quase todo de jogadores de mais de 30 anos, desafio posto ao forasteiro que deve estrear no Majestoso, no Morumbi, no sábado (5) que vem.

Por ora, o Corinthians segue com Fernando Lázaro, 40, que se despede neste domingo (27), contra o Bragantino, embate de dois times da Série A do Campeonato Brasileiro, pelo Paulistinha (com o que a coluna se desculpa com quem não entendeu a ironia feita na quinta-feira).

O filho do Super Zé comandará o time pela sétima vez em busca de manter a invencibilidade e da sexta vitória, 18 gols marcados, quatro sofridos.

Se a rara leitora é corintiana, lê esta Folha no impresso, e gosta de dormir até mais tarde aos domingos, o jogo já foi, porque marcado para as 11 horas.

O raro leitor da Fiel certamente preferiu sacrificar algumas horas de descanso para ver o time que mudará de mãos, mas não de idioma.

O delicioso sotaque lusitano invadiu definitivamente nossos gramados, embora os portugueses digam, e com razão, que sotaque temos nós.

Resta aos treinadores brasileiros aprender a língua do futebol moderno.

Os argentinos aprenderam e faz tempo.