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Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

Na eleição do COB, atletas se colocaram como a razão de ser do esporte

Eles sofreram todo o tipo de pressão, mas no fim se uniram como um time

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Os deuses desconhecem a democracia. A vontade divina determinou os rumos do universo. Na luta pelo poder, não pouparam pais, filhos, mulheres ou bebês. E assim o titã Cronos castrou o pai Urano, usurpando-lhe o poder e instituindo a temporalidade, para depois ser destronado pelo filho Zeus, o deus do Olimpo.

Consciente ou inconscientemente, o que se viu na eleição do Comitê Olímpico do Brasil, nesta quarta (7), foi a reprodução desse imaginário devorador em busca do lugar destinado aos mandatários do esporte.

Porém, longe, muito longe das divindades olímpicas gregas, dirigentes brasileiros mostraram sua mesquinha face demasiadamente humana.

Imitando as ficções de poder hollywoodianas, houve­­ traição, corrupção, assédio, fantasia e ilusão.

Nunca se ouviu tanto em um colégio eleitoral a máxima de que esporte e política não se misturam. Principalmente se a voz a ser ouvida for a dos atletas, considerados peões nesse xadrez no qual dirigentes são os reis. Às rainhas não há assento reservado nesse jogo.

Como em uma final olímpica, porém, houve vitória justa e fair play.

O troféu fair play foi para a dupla Helio Meirelles/Robson Caetano, da chapa Vem Ser, que mesmo vendo a sua base eleitoral ser pulverizada em troca de vãs promessas manteve-se na disputa até o fim. Foram em vão as tentativas de "match fixing".

A disputa acirrada entre as chapas COB + Forte, de Rafael Westrupp/Emanuel Rego, e Força é União, de Paulo Wanderley/Marco La Porta, mostrou como os titãs olímpicos do esporte se enfrentam.

Nessa disputa, dirigentes mudaram de posição da noite para o dia e tornaram incerto um resultado que parecia definido até poucos tempo atrás. Deixaram evidente que a definição da eleição estaria no voto daquelas e daqueles que historicamente foram relegados a um papel secundário nesse ambiente de poder político: os atletas.

Detentores de 12 dos 49 votos do colégio eleitoral, eles sofreram todo o tipo de pressão que se possa imaginar. Entretanto, demonstrando a serenidade necessária nas grandes decisões, uniram-se como um time que deseja vencer não apenas um jogo, mas o campeonato.

Yane Marques, vice-presidente da Comissão de Atletas, vota nas eleições do Comitê Olímpico do Brasil - Miriam Jeske/COB

Nem mesmo a famosa “mala preta” foi suficiente para a demovê-los de seu poder. Afirmaram assim que são a razão de ser do esporte. E, daqui para a frente, passam a ser também fundamentais na gestão dessa que deve ser sua entidade representativa.

É bom constatar que temos esperança.

A dupla vencedora, Paulo Wanderley/Marco La Porta, anunciou a vitória com um discurso sereno. Afirmaram o processo democrático tão pouco comum à história do COB e assumiram o ônus e o bônus dessa experiência rara. Chamaram à unidade os perdedores, comparando a disputa e a derrota a embates familiares. A família olímpica é assim.

Resta agora olhar para o futuro imediato e de longo prazo. O presidente eleito afirmou a urgência de medidas para garantir as condições de treino aos atletas que desejam estar em Tóquio.

Mas, o mais importante, questionado sobre o processo da atleta Carol Solberg, afirmou defender o direito à livre expressão. E foi enfático ao dizer que defenderá isso até o fim. Parece mesmo que os tempos democráticos do COB chegaram em grande estilo.

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