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Quando tudo funciona

Para o impeachment, a sustentação de Bolsonaro tem que desmoronar

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É o mais repugnante governo da história, mas as autoridades, sempre ponderadas, asseguram: não há motivo para preocupação. As instituições são sólidas e funcionam; a democracia só recebe ameaças retóricas.

Desde a posse, o discurso de Bolsonaro é invariavelmente conspiratório. Como um governo de história em quadrinhos, repleto de vilões ridículos, ignorantes e imundos, faz a desconstrução diária de valores relacionados aos direitos humanos e à igualdade.

Bolsonaro (autêntico Pinguim) tem a insolência de flertar com o golpismo. Enaltece o torturador como herói, e a tortura, como estratégia legítima. Estimula o tiroteio e a letalidade policial.

O ministro da Justiça, uma das personalidades patéticas do anedotário contemporâneo, manipula sistematicamente a Polícia Federal para intimidar o exercício da crítica. No Brasil que funciona, a “honra” de Jair Bolsonaro já se confunde com a segurança nacional.

Homicida, Bolsonaro estimula o desrespeito à ciência, menospreza o contágio, fragiliza políticas sanitárias e, cinicamente, desincumbe-se da pandemia —o mais dramático acontecimento global desde a Segunda Guerra— como se o assunto fosse da esfera de estados e municípios. Os que a temem e evitam aglomeração social são “maricas”.

Os hospitais entram em colapso. Acabam os leitos. Falta oxigênio. Vacinas são desviadas. O país funciona. Os bares estão repletos, as escolas serão reabertas, uma variante do vírus alcança a saúde dos mais jovens.

Não há vacina para todos: autoridades e empresários revelam propensão para furar a fila ou para organizar uma outra fila para castas e gente bacana. Logo, as facções e as milícias também vão reivindicar os seus quinhões.

Os frutos da política externa destrambelhada de Bolsonaro amadureceram. Uma das “duas maiores democracias do mundo ocidental” criou embaraços inúteis para as relações diplomáticas com China, Índia, Estados Unidos e Argentina.

O Supremo Tribunal Federal resiste a eventuais estocadas ilegais ou obscurantistas do governo. Uma liminar aqui, outra ali, os filhos de Bolsonaro vociferando pelo fechamento do tribunal, o que não impede a presença de seus integrantes em alegres confraternizações que reúnem em Brasília expoentes de todos os Poderes.

Há, sim, procuradores independentes, destemidos e vigilantes, mas o chefe do Ministério Público Federal, incumbido de acusar o presidente pelo rosário de crimes comuns cometidos, é manso e subserviente, como foi manso e subserviente o presidente anterior do Supremo.

A política também funciona. O candidato de Bolsonaro à presidência do Senado é apoiado pelo PT. O presidente da Câmara dos Deputados desfere ataques retóricos ao desgoverno, mas mantém na gaveta os pedidos de impeachment. A decisão de abrir o processo fica para o sucessor. Pensando no bem comum, o PSOL lança a empolgante candidatura de Luiza Erundina à presidência da Casa e reduz a competitividade do desnorteado e combalido movimento oposicionista.

Além do fundamento jurídico —a Folha compila nada mais nada menos que 23 situações que poderiam ser enquadradas como crime de responsabilidade— para o impeachment, é necessário que a base de sustentação de Jair Bolsonaro desmorone. Nas ruas e no Congresso.

No território sombrio da história em quadrinhos não há espaço para super-heróis. Daqui ninguém sai. Aqui ninguém entra. São párias, marcados para morrer. Ninguém é cidadão.

lfcarvalhofilho@uol.com.br

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