Siga a folha

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Ainda somos os mesmos

Politização de comercial da Volkswagen ignora que somos mais conservadores do que imaginamos

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Quando se fala em conservadorismo, tende-se a imaginar bolsonaristas raivosos, beatas carolas e até regimes totalitários como o fascismo.

Contudo, somos mais conservadores do que pensamos. Afinal, nem toda mudança é para melhor e o desconhecido causa medo. Por isso tendemos a conservar práticas e relações que já se provaram úteis ou prazerosas no teste do tempo, e tememos quando somos obrigados a abandoná-las —como morar em outro país ou se divorciar.

Marca alemã chegou ao Brasil em 1953 e começou a fabricação na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga, em São Paulo; de lá, saíram as primeiras unidades do Fusca, montadas com peças importadas e apenas 12 empregados - Divulgação

Em política, tal postura se manifesta ao preferir medidas pontuais para resolver problemas específicos em vez de grandes mudanças bruscas estruturais. Por isso golpes e revoluções contrariam o espírito conservador: com o propósito de fundar uma sociedade perfeita, acabam gerando caos e violência.

Temos medo do desconhecido e nos sentimos aconchegados com o que é familiar. Como o crítico de gastronomia da animação "Ratatouille", que, ao provar o prato que dá nome ao filme, é transportado para sua infância e acarinhado pela comida caseira da sua mãe.

Essa foi a sensação que muitos tiveram ao ver o polêmico comercial de 70 anos no Brasil da Volkswagen. Polêmico porque, para parte da esquerda, a peça serviu apenas para lembrar da ditadura militar e do conluio da empresa com o regime autoritário no passado.

As cantoras Maria Rita e Elis Regina no filme publicitário - Divulgação/Volkswagen


Trata-se de politização rasteira dos afetos. Os sinalizadores de virtude querem que você se sinta mal por lembrar daquela viagem à praia com a família no Fusca do seu pai.

Por sorte, o mundo não gira em torno da política e algumas coisas nunca mudam, como o papel das emoções na memória e nossa tendência a apreciar o aconchego do já conhecido. Em alguma medida, seremos sempre os mesmos e viveremos como nossos pais.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas