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Corte de importação pela China provoca crise global na reciclagem
Suspensão de compra represa resíduos nos países de origem e força governos a estudar soluções
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Um editorial no “Los Angeles Times” apontou, em 26 de maio, que a crise provocada pela interrupção de importação de recicláveis pela China aflige fortemente a Califórnia, estado americano considerado modelo de sustentabilidade. E sentenciou: “A única maneira de resolver isso é parar de fazer tanto lixo”.
“A reciclagem nunca foi a solução para o problema colocado pelas latas vazias de cerveja, embalagens de plástico e outros itens de uso único. É só um jeito de mitigar os efeitos o suficiente para fingir que todo esse desperdício não é realmente um desperdício”, diz o artigo. “Mas a realidade está se tornando mais difícil de ignorar, agora que o mercado externo para o nosso lixo está entrando em colapso”, acrescenta.
A China era o maior mercado para os recicláveis do mundo. O comércio com a China e Hong Kong movimentou US$ 21,6 bilhões em 2016, num total de 7,3 milhões de toneladas de plástico sendo importados para a reciclagem naquele país.
O material foi exportado por Japão, EUA, União Europeia, Austrália e Nova Zelândia e equivale a 70% de todo o plástico descartado no mundo naquele ano. Só os Estados Unidos exportaram para a China 13,2 milhões de toneladas de papel e 1,4 milhão de toneladas de plástico.
Mas a China tem hoje seus próprios resíduos para tratar e remanufaturar e já estudava uma mudança na sua cadeia de produção.
Em maio, o fechou temporariamente todas as importações e avisou que serão impostas restrições permanentes até o final de 2018.
A crise já estava anunciada desde o ano passado, quando os chineses avisaram que fechariam as portas de entrada para 24 tipos de recicláveis de fora e passariam a cobrar limpeza mais rígida de vários outros materiais, para poder reincorporá-los adequadamente na indústria.
A Organização Mundial do Comércio chegou a pedir um adiamento dessa interrupção e um período de transição para que os países exportadores se adequassem.
O prazo foi dilatado, mas desde maio deste ano já estão em vigor as proibições. Agora, os países exportadores estão se vendo obrigados a tentar descobrir o que fazer com o crescente acúmulo de resíduos.
A comunidade europeia anunciou recentemente um plano radical para conter a produção de plásticos de uso único, mostrando que as soluções são complexas e abrangentes e não se resumem a reciclagem.
Países como Tailândia, Vietnã, Camboja, Malásia, Índia e Paquistão são possíveis novos destinos para o lixo reciclável, mas não há mercado comparável ao chinês.
O resultado é que enquanto não conseguem criar estruturas locais de reaproveitamento, o fluxo desse material pode ser destinado novamente a aterros sanitários, provocando grave crise ambiental.
Na Austrália, a crise levou o tema dos resíduos para novos planos industriais. O país produz 64 milhões de toneladas de lixo por ano. Antes da proibição, 30% do plástico e papel pós uso eram exportados para a China.
O governo estuda novas soluções para aumentar a capacidade doméstica de reciclagem e um plano industrial que torne todas as embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025.
O ministério da energia incentiva estudos de transformação de lixo em energia.
Mas é urgente encontrar um mercado imediato para os recicláveis enquanto se constrói uma solução de longo prazo para processá-los internamente.
Enquanto isso, várias cidades que contavam com o fluxo de escoamento via exportação estão reenviando seus recicláveis para aterros sanitários.
O fechamento desse grande receptor de recicláveis é visto como um alerta. Em artigo para a “Life & Style”, a ativista australiana Gina Dempster, da ONG Wanaka Wastebusters, construiu uma bela imagem: “A China lançou uma chave inglesa na esteira rolante de reciclagem; devemos fazer disso uma oportunidade”, escreveu.
"Se a reciclagem é a resposta, então estamos fazendo a pergunta errada". “Encher nossos contêineres de recicláveis não nos ajudará a dar o salto para a economia circular. Para chegar lá , vamos ter que sair do modelo atual de uso e descarte e projetar contra o desperdício e a poluição”.
Em outras palavras, é vital reduzir a produção de itens descartáveis.
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