Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.
Em 2020, a intolerância precisa dar lugar ao diálogo nos prédios
O cargo de síndico, que antes era valorizado, hoje é um abacaxi
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O ano de 2019 foi de intolerância e brutalidade nos condomínios. Brigas de vizinhos, ofensas nos aplicativos de mensagem, destituição de síndicos por motivos banais, processos judicias, boletins de ocorrência, constrangimento a funcionários e moradores com "comportamento antissocial", que prejudicam a convivência coletiva.
Neste cenário, o cargo de síndico, antes valorizado, é hoje um abacaxi, tarefa para poucos. Sem falar nas despesas, que não param de subir, e na necessidade de caprichar na manutenção, para evitar acidentes e tragédias como as que vimos recentemente com vazamento de gás, queda de marquise, incêndios em quadros elétricos, alagamentos e quedas de elevadores.
Como em um passe de mágica, lá pelo dia 20 de dezembro, veio a trégua. O já conhecido espírito natalino veio com mais força neste fim de ano e, até 5 de janeiro, a paz reinou nos condomínios, como deveria ser o ano inteiro.
Sem tanta pressa, muitos moradores conseguiram até conversar com o porteiro e com a faxineira, seres invisíveis no resto do ano. Nos grupos de mensagem, as reclamações deram lugar aos votos de paz e harmonia no ano novo.
Nessas duas semanas, muitos síndicos conseguiram descansar e puderam fazer planos para a gestão dos seus condomínios, contando com maior tolerância e serenidade dos moradores.
Mas na segunda, 6 de janeiro, a trégua acabou. Ainda fora de ritmo, mas com apetite de leão, os chatos de plantão, os mal-educados e os reclamões voltaram com tudo, anunciando que 2020 não será tão fácil como parecia.
A trégua não foi legítima, a paz era passageira, e viver num condomínio com mais harmonia vai novamente virando uma utopia.
Síndico dedicado, um amigo meu comemorava os bons resultados financeiros de sua gestão e, juntamente com o conselho, resolveu gastar um pouco mais na decoração de Natal do condomínio.
Surpreso, notou que até o grupo de oposição, liderado por uma moradora briguenta, elogiou a beleza e bom gosto da decoração.
Mas, no dia 6 de janeiro, quando a trégua acabou, foi rispidamente indagado sobre os custos com a decoração de Natal e sobre quem autorizou tais despesas. Aquela moradora briguenta já postou no grupo algo sobre falta de prioridades, falta de transparência e sobre o absurdo de gastar tanto dinheiro com luzinhas. Diz que não teve acesso aos orçamentos, não viu o projeto elétrico e que tudo está errado. Meu amigo, frustrado, já pensa em renunciar.
Nos condomínios, o ano de 2020 precisa ser o período de resgate das boas relações de vizinhança, da colaboração, do respeito e do diálogo. Somente as gestões colegiadas e participativas trarão melhores resultados financeiros, operacionais e comportamentais.
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