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Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

Gol contra

A nossa economia não vai bem, mas também não vai tão mal; apenas segue medíocre

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Os dados de curto prazo da economia promovem manchetes de jornal e despertam controvérsias. Seria melhor, no entanto, menos alvoroço.

Existem grandes erros de medida nos indicadores de alta frequência que cotidianamente convidam os analistas a dizer se estamos indo para o inferno ou para o paraíso. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

A economia de verdade, a que gera emprego e renda, é um transatlântico e somente pode ser avaliada com séries longas de tempo. Usualmente, colhemos hoje o que foi plantado em anos anteriores.

A bola da vez foi a divulgação de mais um ano de crescimento medíocre, pouco pior do que no governo Temer. Ainda assim, é bem melhor do que a recessão iniciada em 2014.

O governo trombeteou um suposto progresso na economia, com o setor privado crescendo em meio à redução do gasto público. Não foi bem assim. O consumo do governo caiu em 2019 por razões pontuais, mas aumentou no último trimestre, e a dinâmica para a frente vai depender de reformas das despesas obrigatórias.

Os críticos, por sua vez, destacaram a imensa queda recente do investimento. Também, neste caso, é preciso cuidado, pois fatores ocasionais podem explicar o resultado.

Tudo somado, a nossa economia não vai bem, mas também não vai tão mal; apenas segue medíocre. Temos dificuldades estruturais que só serão resolvidas com reformas profundas e atenção aos detalhes, sendo necessário muito trabalho.

Alguns, porém, acreditam que o papel do poder público é realizar obras e que o teto de gastos é um empecilho a ser ultrapassado. Nada disso. O teto é apenas o termômetro que indica a temperatura do paciente. Ultrapassá-lo significa que a dívida pública pode voltar a sair de controle.

A falta de recursos decorre do elevado gasto público obrigatório, e a reforma da Previdência foi somente o primeiro passo para fazer o tamanho do Estado caber na renda do país. Achar que quebrar o termômetro resolve o problema pode resultar em pneumonia, como ocorreu na gestão Dilma.

Um exemplo é a proposta de emenda constitucional para extinguir os fundos administrados pelo Executivo, que abriu uma porta para o inferno. Senadores acreditam que haverá liberação de dinheiro para expandir os gastos públicos.

Esses recursos, no entanto, são registrados como receita quando entram na conta do Tesouro e gastá-los significará aumentar o déficit público.

Para piorar, o governo insiste em declarações e intervenções atabalhoadas, que contribuem para desorganizar uma economia medíocre, agora combalida pelo cenário externo.

Há servidores públicos tentando cuidar das avarias, mas tem gente em Brasília a fazer novos furos no casco do navio.

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