Siga a folha

Jornalista e roteirista de TV.

Descrição de chapéu Todas

Sexo é só sexo

Levei quase 30 anos para fazer o que a maioria dos homens aprende desde cedo

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Levei quase 30 anos para fazer o que a maioria dos homens aprende desde cedo, o sexo pelo sexo. Foi uma libertação como mulher e ao mesmo tempo um aprendizado sobre o comportamento do gênero oposto, o que me fez economizar muita terapia, ao mesmo tempo que passei a me divertir muito mais.

Não posso dizer o mesmo sobre eles. Os queridos, quando percebem que você também está feliz com o arranjo "beijo, não me liga", sentem-se usados. Como se a trepada sem compromisso fosse prerrogativa deles.

Depois de anos me achando meio biscate, é interessante pensar que existe uma explicação lacaniana para o meu desejo sexual - Womanizer Toys/Unsplash

Agora leio na coluna de Tati Bernardi que, para o psicanalista Darian Leader, "sexo nunca é só sexo". Pensei ter atingido o nirvana ao expulsar da cama, da minha casa e da minha vida os mocinhos que queriam dormir de conchinha quando tudo o que eu queria era que fossem embora depois do gozo. E agora essa. Leader diz que "os corpos não são como pauzinhos que produzem fogo quando esfregados, já que são necessárias inúmeras condições, preferências e dicas para que cheguemos a ficar excitados". Não? Talvez ele precise ser apresentado ao Satisfyer.

Longe de ter tido uma educação sexual reprimida, o que tive foi mais do mesmo que adolescentes numa cidade do interior experimentavam na metade dos anos 1980: um misto de curiosidade, hormônios felizes e medo da fama de galinha. Quando olho minhas fotos da época acho que demorei tanto para finalmente transar por causa das ombreiras horrendas que usávamos na época. O rapaz, com quem eu vivia uma história de amor apenas no meu diário, não me disse eu te amo, não anunciou que ficaríamos o resto da vida juntos, assim como não ouvi o som de trombetas que marcaria o momento em que tinha me tornado "mulher". Ele apenas se mostrou surpreso por eu ainda ser virgem aos 19 anos. Esperei tanto, para passar por aquela humilhação e nem gozar.

Só lá pelos 28 anos, depois de relacionamentos longos e certinhos, e com o apetite sexual mais faminto do que nunca, coloquei em ação o desejo de "uma noite e nada mais". Atravessei o oceano, me engracei com um gringo, num país estrangeiro para nós dois e terminamos a noite numa cama desconhecida no bairro Gótico, em Barcelona. O sexo foi péssimo, o gringo foi embora para sempre e eu me senti vazia. Não podia ser só aquilo. E não era. Na década seguinte, passei a dividir os homens em "para namorar", "para casar", "para trepar". Essa classificação não tinha nada de moralista, mas de prática. Alguns só eram interessantes na cama, fora dela a afinidade era zero.

Talvez Leader tenha razão, e essa liberdade sexual seja resultado do desejo de desafiar um mundo masculino, de me soltar das amarras a que as mulheres são submetidas quando o assunto é sexo. Depois de anos me achando meio biscate, com orgulho, por ter me regalado com mocinhos de oblíquos surrados por abdominais, é interessante pensar que existe uma explicação lacaniana para o meu desejo sexual, para a década todinha em que burlei os códigos sociais pulando de cama em cama. Ainda acho que, muitas vezes, sexo é só sexo, mas pode ser divertido usar como álibi do meu período de devassidão uma suposta rebelião contra o patriarcado.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas