Siga a folha

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Ingleses vão resgatando apreço pelo uniforme de sua seleção

Como muitos brasileiros, eles já tiveram vergonha da camisa do time nacional

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Quem estiver no Reino Unido estes dias vai se deparar com muitas bandeiras nacionais e ruas enfeitadas. É a semana do Jubileu de Platina da Rainha Elizabeth 2ª. São 96 anos de idade e 70 de reinado. A monarca mais longeva da história britânica é querida e respeitada até por quem se diz republicano.

São quatro dias de feriado nacional, pubs abertos até mais tarde, desfiles e festas. Eventos da Família Real, como jubileus e casamentos, são para muitos uma forma de trazer leveza em momentos difíceis. Tantas bandeiras britânicas espalhadas pelo país passam a imagem de orgulho inabalável da própria identidade nacional. Nem sempre é assim.

Se no Brasil há gente desconfortável com a própria relação com nossa bandeira e que não usa a camisa da seleção brasileira com receio de ser associado a uma posição política com a qual não concorda, saiba que isso aconteceu aqui na Inglaterra também.

Nos anos 80, o hooliganismo afastou torcedores dos estádios, diminuiu o entusiasmo pelo futebol e deixou muitos com vergonha de usar as cores da seleção. Em décadas seguintes, grupos de extrema-direita como a English Defence League tentaram se apropriar da cruz de são Jorge –da bandeira da Inglaterra– usando-a como símbolo político. Movimentos como esse adotavam estratégia já vista em outros países: quem os apoiava era chamado por eles de patriota; quem não concordava era inimigo da nação.

Como esporte e política se misturam, mais recentemente defensores do Brexit tentaram associar o bom desempenho da Inglaterra na Eurocopa à separação do Reino Unido da União Europeia (e parecendo ignorar que um dos motivos de o Campeonato Inglês ser o mais forte do mundo é a diversidade de talentos estrangeiros). O primeiro-ministro Boris Johnson foi acusado de querer surfar na onda do sucesso do futebol ao ir à final entre Inglaterra e Itália, em Wembley, com a camisa da seleção.

O centroavante Harry Kane comemora com torcedores gol marcado pela Inglaterra na última edição da Eurocopa; equipe foi vice-campeã - Andy Reuters - 7.jul.21/Reuters

Mas, aos poucos, parte dos ingleses está conseguindo resgatar seus símbolos e mudar o cenário. A geração de jogadores da seleção treinada por Gareth Southgate tem sido fundamental para o retorno desse orgulho. Como escreveu Andrew Rawnsley no The Observer, Southgate acredita em uma Inglaterra unida "não por um nativismo furioso e feio, mas por um patriotismo positivo." Defende a diversidade na equipe, os atletas se ajoelharem em campo, posiciona-se em causas como igualdade de gênero e combate ao racismo.

É o comandante de uma Inglaterra moderna e progressista, estilo de liderança com o qual muitos se identificam. Antes da Eurocopa, escreveu um editorial intitulado "Querida Inglaterra", tentativa de unir a nação em torno do futebol, associando-o à noção de identidade nacional. Disse que acredita que estamos indo na direção de uma sociedade mais tolerante e seus jogadores são parte disso. Todos sabem que o caminho é longo porque casos de racismo contra atletas são frequentes.

O que acontece na Inglaterra pode servir como exemplo de que nossos símbolos nacionais não precisam ser ligados à intolerância e pertencem a todos. Com a Copa do Mundo neste ano, apoiar um time ou ter orgulho do país não significa escolha política para nenhum lado.

Os ingleses de vez em quando me perguntam sobre política e futebol. No olhar deles, de quem vê de fora apenas com pura admiração, há uma opinião em comum: nosso uniforme canarinho é lindo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas