Siga a folha

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Descrição de chapéu Futebol Internacional

O que o adeus de Jürgen Klopp pode ensinar no esporte e na vida

Treinador vitorioso e carismático anunciou que deixará o Liverpool ao fim da temporada

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Não era questão de "se", mas de "quando". Só que o anúncio nesta sexta-feira (26) de que Jürgen Klopp deixará o cargo de treinador do Liverpool ao fim da temporada chocou, pelo momento e motivo.

O que esta despedida pode nos ensinar?

Colocando em contexto: há versões incríveis de Klopp que farão falta. A do treinador que virou um dos grandes do futebol inglês –são sete títulos com o Liverpool (por enquanto), incluindo Premier League, Liga dos Campeões e Mundial de Clubes. A do personagem carismático e com tiradas engraçadas –se José Mourinho se intitulou "the special one", o especial, o alemão disse que era "the normal one", o normal, arrancado gargalhadas. A do chefe inspirador que tira o melhor de um profissional. A do cidadão que não hesita em se posicionar –até se manifestando contra o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.

Jürgen Klopp após partida entre Arsenal e Liverpool no Emirates Stadium, em Londres - Ian Walton - 20.jan.2022/Reuters

Sobre potenciais lições.

Depois de oito anos e meio no cargo, disse que ama o clube e a cidade, mas está "ficando sem energia". O Liverpool é líder da Premier League, disputa quatro competições, e ele tem contrato até 2026. Admitir cansaço e não conseguir se dedicar como gostaria é louvável. A função exige comprometimento total.

Quantas vezes nos acomodamos em situações pessoais ou profissionais por bem menos dinheiro e fama? Sinceridade deveria ser padrão, não virtude, mas chama a atenção. Uma jornalista britânica tuitou que, "na política, é difícil achar um líder que peça demissão quando está bem". Com 56 anos, Klopp começou a carreira de técnico em 2001. "Não quero esperar ficar muito velho para ter uma vida normal." Justo. Conheço alemães e trabalho com eles, e uma de suas várias qualidades é a honestidade.

Outro ponto é o nível de respeito quando profissionais não são tratados como descartáveis e há projeto de longo prazo. Se cumprisse o contrato, Klopp ficaria por pelo menos 11 anos. O clube foi avisado em novembro de seu desejo, e o anúncio tem antecedência para que os envolvidos se planejem. Em rodada de Copa da Inglaterra, não foi distração antes de um jogo do Campeonato Inglês. Klopp citou que pensa nas crianças que nunca viram outro técnico além dele, na importância de deixar tudo organizado.

Por fim, foi uma aula de marketing do clube sobre controlar a narrativa. O anúncio, junto com uma entrevista, foi feito pelo Liverpool, divulgado por seus canais oficiais. Tocou em pontos que seriam especulados: por que sair agora?

Seria insatisfação com falta de investimento e por ser impossível competir com o poder financeiro do Manchester City? "Quando assinei a extensão de contrato, estava feliz, subestimei [o cansaço]." Pode ir para um rival? "Nunca serei técnico de outro clube inglês". "Não treinarei clube ou seleção por pelo menos um ano."

É fato, no entanto, que cresce a pressão sobre Julian Nagelsmann, técnico da Alemanha, que joga como sede a Eurocopa em julho. Comandar a seleção do próprio país é uma honra para um treinador e um estilo de vida mais tranquilo do que o experimentado em um grande clube.

Klopp quer focar o futebol e pediu que a torcida não faça homenagens agora. Difícil, ainda mais no clube cujo lema é "You Will Never Walk Alone" –"você nunca vai andar sozinho".

Seria a cereja do bolo a era Klopp terminar com títulos. Se não acontecer, o carinho por ele não mudará. O alemão entendeu e abraçou o tamanho da responsabilidade de representar uma cidade apaixonada por futebol. Essa já é uma história com final feliz.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas