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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

É justo premiar com dinheiro medalhistas olímpicos do atletismo

Não consigo entender por que a decisão da World Athletics causou polêmica

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O jamaicano Kishane Thompson foi campeão olímpico nos 100 m rasos. Pelo menos por alguns segundos, para os espectadores americanos que acompanhavam a prova pela rede de televisão NBC.

Em uma chegada emocionante e cujo vencedor só foi decidido no "photo-finish", o narrador deu o título para a Jamaica. Na sequência, se corrigiu, já que o americano Noah Lyles foi declarado campeão depois da checagem. Lyles venceu em 9s784, cinco milésimos de segundo mais rápido do que Thompson.

O velocista, que está sendo chamado por muitos de herdeiro de Usain Bolt, não apenas venceu uma das provas de 100 m rasos olímpicos mais apertadas dos últimos tempos. Ele agora faz parte de um grupo beneficiado por uma novidade criada pela World Athletics a partir dos Jogos de Paris.

Noah Lyles comemora medalha de ouro conquistas nos 100 m rasos - AFP

A federação internacional do esporte decidiu começar a premiar medalhistas de ouro olímpico em provas individuais com U$ 50 mil, equivalente a cerca de R$ 280 mil. O revezamento ganha o mesmo valor, para ser dividido entre eles. Medalhistas de prata e bronze do atletismo também passarão a receber o dinheiro a partir de Los Angeles 2028. Decisão que acho justa.

O presidente da World Athletics, Sebastian Coe, bicampeão olímpico nos 1500 m rasos em Moscou-1980 e Los Angeles-1984, disse que veio de uma era em que, para competir pela Grã-Bretanha, "o atleta ganhava um bilhete de segunda classe de trem e um voucher de comida de 75 centavos", mas que "o mundo mudou."

Eu não entendo quem se chocou ou criticou a iniciativa, com o argumento de que isso mancha os Jogos Olímpicos —que não é mais amador na prática há muito tempo— ou que fará o atleta pensar mais no dinheiro.

A novidade, nesse caso, é apenas que a federação internacional do esporte resolve dar premiação. Bônus a atletas sempre existiram, e de diversas formas.

Quem se torna medalhista olímpico já ganha dinheiro das suas confederações, de patrocinadores. Além disso, a premiação da World Athletics vem de uma verba do COI (Comitê Olímpico Internacional) repassada às federações internacionais para que elas a usem em prol do seu esporte. Ah, mas dinheiro tem que ser usado na base... Sim, mas uma coisa não exclui a outra.

Além disso, muita gente lucra com os Jogos Olímpicos, então é justo que os protagonistas do espetáculo também possam. E quando a gente pensa nos grandes astros, que ganham muito dinheiro, eles são minoria. A maioria precisa de apoio para se sustentar.

Recentemente, a Folha publicou duas reportagens que têm ligação com o tema. Uma mostrando como países incentivam seus atletas que estão competindo em Paris oferecendo prêmios às vezes curiosos, incluindo carros para competidores do Iraque que conseguiram a vaga, apartamento para quem conquistar a primeira medalha de ouro para a Malásia, diamantes para campeões olímpicos da Polônia.

A outra é sobre como medalhistas que viram o número de seguidores disparar nas redes sociais esperam criar oportunidades comerciais e financeiras através de suas contas pessoais, já que se tornam o perfil dos sonhos para muitas marcas.

Carreira de atleta é curta e, muitas vezes, cruel com quem não termina em primeiro. Premiar um campeão olímpico com U$ 50 mil não vai mudar a carreira de ninguém, mas é uma bela ajuda. Nem vai, de jeito nenhum, fazer com que eles queiram competir nos Jogos por dinheiro.

Ter a honra e a satisfação de ganhar uma medalha olímpica ainda é e vai continuar sendo o sonho de qualquer atleta. Conseguir esse feito não tem preço.

A colunista está em Paris como integrante da organização responsável pela transmissão oficial dos Jogos Olímpicos

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