Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Paris passou no primeiro grande teste, a cerimônia de abertura

Jogos voltam à capital francesa pela terceira vez, cem anos depois

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"Desculpe, não sou de Paris, não consigo te ajudar," disse-me um policial, em frente a uma das muitas barreiras montadas nas ruas do centro da capital francesa. Eu havia passado os últimos 40 minutos tentando atravessar de um lado para o outro da Torre Eiffel, mas sempre acabava barrada.

É que eu não tinha um QR Code no celular —exigido, por causa dos Jogos Olímpicos, para atravessar certas áreas de Paris. Os bloqueios eram por questão de segurança, e para a cerimônia de abertura. Cansada de andar e tentar achar rotas alternativas, desisti.

Sou uma defensora dos Jogos Olímpicos e dos benefícios de ser uma cidade-sede, mas entendo as frustrações de moradores e comerciantes de Paris com tantas restrições. Esta já é a cidade mais visitada do mundo e ela não precisa de um megaevento para atrair turistas. Pelo contrário. Se você não tem ingresso para assistir a uma competição olímpica nas próximas semanas, é melhor mesmo não vir.

Artista durante performance na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, nesta sexta
Artista durante performance na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, nesta sexta - Bernadett Szabo/Reuters

Em compensação, nunca me senti tão segura por aqui. Há policiais por todos os lados —nas ruas, no transporte público, em barcos no rio Sena.

Assim como o policial que conversou comigo, agentes vieram de diversas partes do país e de vários países para ajudar na maior operação de segurança da história da França. Mesmo assim, somos alertados a ter cuidado, principalmente à noite, e andar sem credencial para não mostrar que somos "olímpicos." Recentemente, jornalistas australianos foram assaltados e tiveram equipamentos roubados.

Enquanto muitos parisienses torcem o nariz para os Jogos e deixam a cidade, outro tipo de turista chega: o esportivo. Já é quase impossível comprar ingressos e o clima é totalmente diferente de Tóquio, em 2021 (ainda bem). Os últimos Jogos de Verão foram durante a pandemia e sem público, e todos nós, de jornalistas a atletas, ficamos em bolhas de isolamento e fazendo testes de Covid-19 o tempo inteiro.

Percebo uma divisão entre os franceses que é comum em moradores locais em toda edição olímpica. Há os que são totalmente a favor ou contra, e os que vão mudando de opinião ao longo da competição
—principalmente se os atletas da casa começam a subir no pódio.

Uma reportagem da Folha trouxe dados da consultoria Nielsen projetando que os franceses podem chegar a 60 medalhas. Seriam 27 ouros, quase o triplo de três anos atrás, melhor participação da França em 124 anos.

Estou em Paris como parte da equipe responsável pela transmissão oficial e, esta semana, assisti na tv um programa com jornalistas e um economista do esporte. Às vésperas da cerimônia de abertura, uma tarja na tela tinha a frase "Jogos Olímpicos, a tensão aumenta."

Eles debateram gastos públicos, segurança, turismo e como os Jogos seriam uma vitrine da França para o mundo. Mesmo para quem diz não ligar para as Olimpíadas, elas mexem sim, com orgulho e ideia de identidade nacional.

Horas antes do início oficial dos Jogos, nesta sexta-feira (26), nem todo investimento em planejamento e segurança conseguiram evitar ataques em linhas de trens no país, alvo de vandalismo. Quase um milhão de pessoas foram afetadas com atrasos e cancelamentos.

Mas um grande desafio foi superado: dá para dizer que a cerimônia de abertura —pela primeira vez fora de um estádio, projeto ambicioso para uns e loucura para outros— deu certo. Depois dos Jogos vazios e silenciosos da pandemia, estes querem ser uma grande festa. Tomara.

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