Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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O caminho para a igualdade de gênero e de oportunidades em Olimpíadas

O que mulheres conquistaram em Paris é algo a ser celebrado; ainda há desigualdade histórica a ser corrigida

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Quando Pierre de Coubertin fundou os Jogos Olímpicos da Era moderna, a partir de 1896, eles eram vistos como uma celebração da performance atlética masculina, enquanto o papel da mulher era aplaudir os feitos dos homens.

Na última vez que Paris sediou os Jogos, em 1924, só 4% dos competidores eram mulheres. Em Amsterdã, em 1928, 10%. Em 1960, eram apenas 11% em Roma.

Para esta edição na capital francesa, o Comitê Olímpico Internacional distribuiu igualmente as vagas para homens em mulheres. A paridade absoluta de gêneros não aconteceu por pouco, mas, certamente, é algo a ser comemorado. Ainda existe uma desigualdade histórica a ser corrigida. Faltam mulheres em comissões técnicas —não só em cargos como nutricionista ou psicóloga—, melhores condições de salários, mais oportunidades.

Atleta da Suíça durante partida de badminton - Antonin Thuillier/AFP

Quando eu era criança, apesar de adorar praticar esportes e ter experimentado vários, não havia, pelo menos perto da minha casa, no Rio de Janeiro, escolinhas de futebol para meninas. No recreio do colégio, eu jogava vôlei e handebol. Jogar com a bola nos pés era para os meninos.

Quando escolhi ser jornalista, trabalhar na televisão como narrador, comentarista ou repórter cinematográfico era praticamente algo exclusivo para homens. A impressão é que não pertencíamos a esse mundo.

Hoje em dia, a diferença é drástica, ainda bem. Ouvir mulheres narrando partidas de futebol é normal e ninguém se surpreende. O número de operadores de câmera mulheres cresceu muito, inclusive nos Jogos Olímpicos. E há outras diferenças, às vezes sutis, mas muito importantes.

Na cerimônia de abertura, em que cada país escolhe dois porta-bandeiras, a maioria das delegações teve um homem e uma mulher nesse papel. O calendário olímpico também mudou, e competições femininas estão em dias e horários mais nobres, antes destinados apenas aos homens.

A maratona feminina, por exemplo, será a última competição dos Jogos, em vez da prova masculina. As finais femininas do basquete e vôlei também serão em 11 de agosto, dia da cerimônia de encerramento.

A forma como a imprensa retrata o esporte feminino também tem sido mais respeitosa e profissional, e comentários sexistas têm sido menos tolerados. Reportagens sobre as "musas dos Jogos", por exemplo, são mais raras.

Na semana passada, um experiente comentarista de uma televisão europeia foi demitido da cobertura olímpica pelos comentários sobre a aparente demora do revezamento feminino de natação da Austrália, que havia conquistado o ouro, para sair do Centro Aquático: "Bem, as mulheres estão terminando. Você sabe como elas são, esperam, se maquiam."

A ex-nadadora britânica Lizzie Simmonds, que fazia parte da transmissão, chamou a fala do colega de "ultrajante".

Na cobertura televisiva, há muito tempo não vemos aquelas imagens mais fechadas no corpo feminino, de uma forma mais sexualizada do que como os homens são mostrados. O vôlei de praia é um exemplo.

O esporte, aliás, é o mais democrático dos Jogos com relação ao uniforme. As jogadoras têm diferentes opções e podem usar shorts, calças e cobrir a cabeça com o hijab. A maioria acaba usando biquíni porque considera mais confortável, estão acostumadas. O bom é que isso pode ser uma escolha delas.

A colunista está em Paris como integrante da organização responsável pela transmissão oficial dos Jogos Olímpicos

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