Siga a folha

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

O fantasma da derrota de Jeremy Corbyn

Fracasso dos trabalhistas na votação do Reino Unido vai pairar sobre o PT na eleição presidencial de 2022

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

De todas as lideranças da nova esquerda saídas da crise financeira de 2008, Jeremy Corbyn era o que mais entusiasmava. Ao contrário de Mélenchon (França), Sanders (EUA) e Iglesias (Espanha), ele capturou o mais poderoso e tradicional partido de centro-esquerda da Europa. 

A máquina de Tony Blair, principal expoente da terceira via que dominou a social-democracia na primeira década do século, estava agora à disposição de um socialista histórico. Essa revolução política inspirou partidos ao redor do mundo. Poucas doutrinas influenciaram tanto o PT pós-impeachment como o corbinismo. 

Lindbergh Farias e Gleisi Hoffman citaram Corbyn a torto e a direito para justificar medidas do PT como a mobilização em torno da base mais ideológica ou a necessidade de uma nova constituinte. 

O líder trabalhista Jeremy Corbyn próximo à sua casa em Londres - Toby Melville/Reuters

Na semana passada, Corbyn tinha a oportunidade de mostrar ao que veio na eleição mais importante do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial. Comandados por um bufão que não acredita em uma palavra do que fala, os conservadores se arrastavam há mais de dez anos no poder e tinham pouco mais a oferecer do que um caótico e imprevisível brexit.

Só os trabalhistas podiam impedir a terra do habeas Corpus de se tornar um puxadinho de cleptocratas globais. Para a desilusão de todos, Corbyn e seus camaradas entregaram uma campanha morna e manchada por uma inextricável polêmica sobre antissemitismo. O excelente programa, renovador, criativo e jovem, era completamente ilegível. 

Mais grave ainda foi a gestão do brexit. Assumindo uma postura de neutralidade sobre a questão mais divisiva da história recente do Reino Unido, Corbyn alienou o eleitorado escocês, massivamente pró-Europa, que desertou a favor dos independentistas. Para complicar as coisas, os ingleses de esquerda favoráveis ao brexit nunca aderiram ao conceito do “Lexit”, ou a saída da UE em nome do ideal socialista, uma das bandeiras do corbinismo, e se aliaram aos conservadores. Falando com as paredes, Corbyn viu os bastiões trabalhistas definharem sob os seus olhos. 

Humilhado, Corbyn se disse triste mas “orgulhoso do seu manifesto”. Uma conversa indigna de um líder que tinha como missão salvar o Reino Unido de uma tragédia. 

Objetivo perfeitamente atingível se Corbyn tivesse ouvido os militantes que defendiam a formação de uma frente eleitoral da esquerda ao centro, passando pelos verdes. Esse modelo, em fase experimental na Alemanha, teria sido muito mais adequado ao embate eleitoral britânico do que uma alternativa centrista nos moldes da Espanha e da França. 

O fantasma de Corbyn vai pairar sob os teóricos do PT que defendem um embate direto com Bolsonaro em 2022. Hoje, Lula faz como Corbyn e fala com as paredes. Liberais progressistas buscam novas formações. e lideranças do Nordeste repudiam publicamente a linha do seu líder.

O fracasso chocante e irreversível da nova esquerda no Reino Unido vai obrigar os petistas a repensarem a estratégia e decidirem, de uma vez por todas, se querem voltar a desempenhar o seu papel histórico de criador de novas sinergias no campo progressista ou se preferem continuar facilitando a vitória de extremistas.​

 
 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas