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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Agronegócio, clima e China formam o novo tripé da política externa

Indústria agrícola no Centro-Oeste se torna motor das exportações brasileiras

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Impressiona o contraste entre o caos em Brasília e o método no Centro-Oeste ao longo da última década. De Dilma Rousseff a Jair Bolsonaro, o setor do agronegócio saiu reforçado de cada transição política. Pequenas revoluções no campo da logística, maquinaria, genética e capacitação aumentaram a concentração da indústria agrícola na região, que se tornou o motor das exportações brasileiras.

A última década começou em clima de euforia com a descoberta da Bacia de Campos, que permitiu à indústria petrolífera cumprir o seu destino histórico e atingir a autossuficiência. Mas o delírio pseudo-desenvolvimentista dos anos Dilma, o choque externo da pandemia e a transição energética obrigaram o setor a rever as suas ambições para baixo.

Agora, a tendência é que o agronegócio assuma o papel de gerador de inovações tecnológicas e de investimentos em infraestrutura. Compostos da indústria do petróleo, como o plástico e o diesel, serão gradualmente substituídos pelo bioplástico e o biodiesel. No Brasil, os ciclos extrativistas não se extinguem; eles se substituem.

O agronegócio também vai definir a posição do Brasil na arena internacional. A saída pelo Norte amplia o acesso aos mercados da Europa e África e abre o caminho para diversificar o setor e diminuir a exposição da economia brasileira à China. Mas essa expansão comercial só será possível se o agronegócio incorporar o desafio da luta contra o aquecimento global.

A médio prazo, os produtores brasileiros terão de acatar medidas drásticas, mas decisivas, como excluir qualquer desvio de desmatamento dentro das suas cadeias e garantir a sustentabilidade dos seus produtos. É um segredo aberto dentro da indústria que a carne ultraprocessada corre o risco de terminar como a margarina e o óleo de palma.

Os produtores também precisam que o governo brasileiro desenvolva uma estratégia diplomática à altura do desafio. A segurança alimentar pode ser o principal vetor de projeção internacional do Brasil.

A Embrapa tem capacidade para substituir a errática Agência Brasileira de Cooperação como organizadora da ajuda ao desenvolvimento. Um dos erros do governo Lula, o mais bem-sucedido nessa área, foi de tentar fazer tudo ao mesmo tempo.

Uma agenda concentrada será mais fácil de se implementar e monitorar. Quando o Palácio do Itamaraty voltar a ser comandando por diplomatas interessados pela realidade, agro, clima e China formarão o novo tripé da nova política externa.

De fato, o desafio mais imediato do agronegócio é político. Apoiado por produtores em 2018 em um ato de afirmação nacional, Jair Bolsonaro tornou-se o maior obstáculo ao crescimento do setor. A recondução do governo mergulharia o Brasil numa era de sanções e repressão internacional.

Para garantir a prosperidade da próxima década, os capitães da indústria terão a responsabilidade histórica de evitar um suicídio produtivo e abandonar os milicianos e grileiros em 2022.

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