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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Euphoria' mostra como o streaming freia maratonas para surfar nas redes

Após boom do 'binge watching', plataformas buscam novas estratégias de lançamento, mais próximas à moda antiga

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Num momento de fraqueza, me encantei por uma série bem mais ou menos. Não é a primeira vez que isso acontece e tenho certeza de que todo mundo já passou por isso. Você começa a ver, percebe os problemas, as falhas, mas tem alguma coisa ali que te amarra e te leva até o fim, para saber como aquela história vai terminar.

"Pam & Tommy" é uma ficção em oito episódios baseada no primeiro caso célebre em que vídeo íntimo foi colocado na internet com o objetivo de ganhos ilícitos. As vítimas, que dão título à série, são o músico Tommy Lee, da banda Mötley Crüe, e a atriz Pamela Anderson, da série "S.O.S. Malibu".

Eles se casaram quatro dias após se conhecerem, em 1995. Tommy Lee é a caricatura do roqueiro, como diz a música do Erasmo, que precisa manter a fama de mau. Uma de suas diversões é filmar Pamela com uma câmera Super 8. Outro prazer parece ser tratar mal as pessoas ao seu redor.

Numa altercação sem muito sentido, ele demite o carpinteiro que está fazendo uma obra em sua mansão. E o sujeito, para se vingar, rouba o cofre do roqueiro, que guarda dólares, joias, armas e uma fita com imagens íntimas de Pamela.

Este é o ponto de partida da série criada por Robert Siegel, cujo maior feito até hoje é o roteiro do premiado filme "O Lutador", de 2008, com Mickey Rourke.

Como documenta "Pam & Tommy", e creio que esta é a sua maior qualidade, naquela segunda metade da década de 1990 as pessoas ainda ignoravam o potencial de estragos que a internet poderia causar. O roqueiro e a atriz demoram a entender o tamanho do impacto provocado pela divulgação das imagens, especialmente para uma mulher.

Comecei a assistir à série no sábado à noite e fui em frente. Estava decidido a ir até o final, mas não deu. Encerrado o quinto episódio, não havia mais nada para ver. Só então me dei conta que o Star + está exibindo um episódio inédito por semana.

O hábito de "maratonar" séries não é novo, mas ganhou impulso com as facilidades da revolução digital. Todos os episódios de todas as temporadas da sua série favorita hoje estão à disposição, em alguma plataforma de streaming, para serem vistos na hora que você quiser.

Uma novidade importante ocorreu em 2013, quando a Netflix ofereceu de uma só vez todos os 13 episódios de uma série inédita, a primeira temporada de "House of Cards". Até então, o espectador só fazia "binge watching" com programas antigos, do catálogo. A partir daí, cresceu a pressão sobre os concorrentes para tomarem atitude semelhante.

O que é bom para o espectador nem sempre é o melhor para a empresa. E essa política da Netflix, imitada por alguns rivais, tem mostrado efeitos complicados. O lançamento de todos os episódios de uma só vez diminui o tempo em que se fala de uma série nas redes sociais, reduzindo a "vida útil" do programa, o que afeta interesses comerciais.

Outro problema é que nem todas as plataformas de streaming têm o cacife da Netflix, que pode se dar ao luxo de lançar num mesmo mês meia dúzia de séries novas e, assim, consegue absorver o impacto de eventuais insucessos.

Alguns modelos vêm sendo testados desde então. Um deles é lançar alguns, e não todos, os episódios de uma só vez. O Globoplay fez isso com "Verdades Secretas 2", oferecendo dez novos episódios por semana, ao longo de cinco semanas.

Exibindo um episódio novo por semana de suas séries, como a velha e boa TV aberta sempre fez, a HBO fincou o pé e apontou o caminho da contrarrevolução. "Euphoria", cuja segunda temporada termina este domingo, está aí para comprovar. Esse é o modelo que tem sido seguido por parte das plataformas. Apesar da frustração que senti com "Pam & Tommy", não acho ruim, não.

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