Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Euphoria' revela lado escuro da adolescência imersa no vício em drogas

Vítima da falta de interpretação, série da HBO foi acusada de glorificar uso de entorpecentes por estudantes do ensino médio

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Nem Chacrinha, creio, conseguiria se comunicar hoje em dia sem se "trumbicar". As dificuldades de interpretação de texto são enormes e cada vez mais difusas. Não vou tomar aqui as dores da minha corporação, ainda que seja uma das que mais sofrem com isso, mas de quem cria conteúdo de ficção. Especificamente dos responsáveis pela série "Euphoria", da HBO.

Atualmente na segunda temporada, é um drama sobre o lado mais escuro da adolescência. Com tintas
fortes, retrata a vidinha de uma dezena de jovens que se entopem de drogas e bebidas alcóolicas, estabelecem laços de amizade e de ódio ferozes, cometem maldades terríveis e experimentam paixões e rejeições intensas.

Zendaya e Dominic Fike em cena da segunda temporada de 'Euphoria', da HBO Go
Zendaya e Dominic Fike em cena da segunda temporada de 'Euphoria', série da HBO - Reprodução

O programa, como se vê, explora um tema comum, mas faz isso de forma razoavelmente original e muito competente. É ambientado numa cidadezinha americana não identificada, sugerindo que pode se passar em qualquer lugar, com um arco de personagens bem diferentes uns dos outros, que oferecem um cardápio muito variado de problemas.

Rue Bennett, a protagonista e narradora, é dependente química e já passou por diversos tratamentos para se livrar do vício. No atual estágio da série, ela está no ápice de uma recaída. A personagem é vivida pela cantora e atriz Zendaya, que também é produtora-executiva da série e, como a maior parte do elenco, já não é mais adolescente (tem 25 anos).

Numa cena surpreendente, no terceiro episódio, Rue canta "Call Me Irresponsible" ("me chame de irresponsável, admito que sou inconsequente, diga que sou inapta"). Em seguida, dirige-se ao espectador e diz: "Como uma personagem amada, por quem muitos torcem, sinto a reponsabilidade de tomar boas decisões. Mas tive uma recaída".

E a personagem ainda lembra: "Sendo justa, disse no início que não tinha a intenção de permanecer sóbria. Mas o país está nas trevas. E bem fodido. As pessoas só querem encontrar esperança. Em qualquer lugar. E, se não for na realidade, então na televisão. Infelizmente, não é para mim".

O quinto episódio, o mais recente, foi dedicado inteiramente a mostrar uma crise de abstinência de Rue. Ao longo de 54 minutos, acompanhamos o desespero da personagem, correndo e fugindo da mãe, dos amigos, da polícia e de traficantes. É muito impactante.

Uma importante organização que luta contra o envolvimento de jovens com drogas, chamada Drug Abuse Resistance Education, divulgou em janeiro uma nota condenando "Euphoria" por "glorificar equivocadamente e retratar erroneamente o uso de drogas por estudantes do ensino médio".

Ora, se tem uma coisa que "Euphoria" provoca é repulsa às drogas. O vício de Rue desestrutura e destrói tudo ao seu redor. Afetou até a bela história de amor que a personagem construiu com Jules, uma menina trans, vivida por Hunter Schafer.

Aliás, até onde a vista alcança, todas as principais descobertas que os personagens de "Euphoria" fazem são dolorosas e sofridas, como não é raro acontecer na adolescência.

Zendaya criou um tipo que estimula empatia e pena. Em 2020, ela se tornou a mais jovem ganhadora do Emmy de melhor atriz por seu trabalho na primeira temporada. Já é novamente uma das favoritas ao prêmio pelo que faz nesta segunda safra de episódios.

A HBO, que não é boba nem nada, já encomendou uma terceira temporada a Sam Levinson, criador da série.

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