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Fenômeno Milei justifica consulta de Lula, diz embaixador na Argentina chamado ao Brasil

Julio Bitelli diz que conversas foram importantes e defende que é preciso conter 'visão alarmista' sobre divergências entre presidentes

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Brasília

O embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, admite que sua chamada a Brasília para consultas, ocorrida nesta semana, não é comum para os padrões diplomáticos. Ele defende, porém, que o esforço de explicação sobre o que se passa no país vizinho está à altura da novidade que é Javier Milei para a região.

"A Argentina de Milei é um experimento novo. E é preciso que a gente, que tem na Argentina um parceiro importante, não só comercial, mas em vários setores, entenda essa nova Argentina para poder continuar trabalhando pelo aprofundamento das relações", afirma ele à coluna.

O embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, durante audiência no Senado, em Brasília - Agência Senado

Bitelli diz que existia uma certa previsibilidade sobre os rumos da relação entre Brasil e Argentina em governos argentinos anteriores, fossem eles peronistas ou mais à direita, como o de Mauricio Macri, mas que esse aspecto foi abalado com a chegada de Milei à Casa Rosada .

"O Milei é um fenômeno novo, por isso a necessidade de uma consulta assim. 'Ah, mas isso [a chamada a Brasília] se faz?' Não, não é comum que se faça. Mas se justifica justamente pela densidade da relação e pela profunda transformação por que está passando a Argentina", diz o embaixador em Buenos Aires.

Tradicionalmente, a chamada para consultas é um instrumento diplomático usado para manifestar insatisfação. Em fevereiro deste ano, por exemplo, o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi chamado de volta ao país em meio à crise com Israel —e não retornou ao posto desde então.

De forma geral, as consultas diplomáticas não costumam ter um tempo de duração determinado e não têm como principal objetivo ouvir, de fato, o parecer de um embaixador.

Bitelli, por sua vez, veio ao Brasil com passagem de volta a Buenos Aires comprada e teve agendas não só com Lula (PT) e com o chanceler Mauro Vieira, como é esperado nesse tipo de situação, mas também com auxiliares do presidente da República que têm interesse direto na relação bilateral.

Nos últimos dias, o embaixador se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também chefia o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e com os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça), José Múcio (Defesa), Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

"Essa chamada serviu para que eu conversasse no mais alto nível com esses interlocutores e pudesse contar um pouco o que está acontecendo lá, ouvir deles quais seriam as prioridades e mapear onde a gente pode trabalhar nas relações bilaterais. Foi muito útil."

Bitelli afirma que, embora a Embaixada do Brasil em Buenos Aires faça um trabalho diário de acompanhamento da situação econômica e política local e relate os acontecimentos semanalmente a Lula, as tratativas presenciais têm outro peso.

"É completamente diferente você conversar olho no olho. Sobretudo porque, no nível de ministro, você não tem muito tempo para ler essas análises com detalhamento", afirma o embaixador.

Em reuniões com ministros, o diplomata expôs que a queda nas exportações brasileiras identificada no primeiro semestre deste ano também se deu com China e EUA, até mesmo em níveis mais expressivos. Frisou, ainda, que o dado negativo não se deve ao mal-estar entre Lula e Milei.

"Fica fácil você especular sem ter a visão completa. O comércio está sendo afetado porque o governo da Argentina está levando adiante um plano econômico draconiano para conseguir o superávit fiscal, e isso fez com que as importações caíssem brutalmente", diz Bitelli.

O embaixador afirma que é preciso conter "a visão alarmista" criada em torno das divergências entre Lula e Milei, intensificadas depois que o argentino veio ao Brasil para participar de um evento conservador ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não se reuniu com o petista.

"Eu falei com a imprensa Argentina [sobre essa vinda ao Brasil] porque lá já tinha jornal dizendo que o próximo passo é romper relações. Calma", afirma o embaixador.

Ao voltar para Buenos Aires na próxima semana, Bitelli diz que levará consigo a confirmação de que a diplomacia brasileira está fazendo um bom trabalho no país vizinho, apesar das tensões políticas.

"Vamos continuar investindo na relação bilateral e conversando com todo mundo, procurando formas de aprofundar essa relação, independentemente do que possa acontecer ou não entre os presidentes. Essa segurança me dá muita tranquilidade para continuar fazendo o meu trabalho."


OLHO NO LANCE

A diretora-executiva do Museu do Futebol, Renata Motta, recebeu convidados na reabertura do espaço cultural na semana passada, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. A fisioterapeuta Flávia Cristina Kurtz, filha do ex-jogador Pelé, e o secretário da Justiça e Cidadania de São Paulo, Fábio Prieto, marcaram presença no evento.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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