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Descrição de chapéu Folhajus STF

Justiça condena empresário a indenizar Zanin após ataque em aeroporto

Luiz Carlos Basseto Júnior foi sentenciado por injúria; episódio ocorreu em janeiro de 2023

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A 6ª Vara Criminal de Brasília condenou o empresário Luiz Carlos Basseto Júnior a pagar uma indenização de R$ 10 mil ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Cristiano Zanin por atacá-lo no banheiro de um aeroporto. O episódio ocorreu em janeiro de 2023, antes de o magistrado chegar à corte.

A Justiça ainda condenou Basseto a quatro meses e 15 dias de detenção pelo crime de injúria, mas substituiu a pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direito. O empresário poderá recorrer da decisão em liberdade.

O ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), é o relator da ADPF sobre 'softwares espiões' proposta pela PGR contra o Congresso Nacional. - Gustavo Moreno - 21.mar.24/SCO/STF

No dia da ocorrência, Basseto se aproximou do então advogado do presidente Lula (PT) enquanto ele escovava os dentes no banheiro do aeroporto de Brasília.

"Parece destino. O pior advogado que possa existir na vida aqui. Olha o bandido, o corrupto aqui", afirmou, filmando as agressões. Ele também chamou Zanin de "safado" e "vagabundo".

Na sequência, o empresário passou a ameaçar agredir fisicamente o então defensor do presidente Lula. "Vontade de meter a mão na orelha de um cara desse", afirmou. "Tinha que tomar um pau de todo mundo que está andando na rua", completou, ao que Zanin deixou o local sem responder às agressões.

Em sentença proferida nesta segunda-feira (22), a juíza Mariana Rocha Cipriano Evangelista afirma que os fatos narrados na queixa-crime apresentada por Zanin e pela OAB (Ordem dos Advogados dos Brasil) constituem clara ofensa à dignidade e ao decoro do ministro, atingindo a sua intimidade.

A magistrada ainda diz que as provas, confirmadas pelo autor da agressão, indicam a intenção do empresário de atingir a honra do ministro por meio das palavras escolhidas.

"Na época dos fatos, o querelante era renomado advogado, com mais de 20 anos de carreira e atuação em todo o território nacional", relata a juíza.

"Não há qualquer indício de que as ofensas proferidas pelo querelado [Basseto] possuíssem algum respaldo fático que motivasse um descontentamento seu. Conforme afirmou em seu próprio interrogatório, sequer conhecia o querelante [Zanin]", segue ela.

Evangelista afirma que o réu praticou cinco crimes por proferir a frase "pior advogado que possa existir na vida" e os termos "bandido", "corrupto", "safado" e "vagabundo" contra o então advogado.

Ainda de acordo com a magistrada, a agressão causou danos extrapatrimoniais a Zanin e atingiu seus direitos de personalidade.

O ministro foi defendido na ação pelos advogados Alberto Zacharias Toron, Fernanda Tórtima, Priscilla Lisboa Pereira, Verena de Freitas Souza, Ulisses Rabaneda dos Santos, Rogerio Barcelos dos Santos Martins e André Galvão Pereira.

O episódio no aeroporto de Brasília ocorreu apenas três dias após os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, na capital federal.

Em um primeiro momento, o Ministério Público chegou a se manifestar pela realização de uma audiência de conciliação entre Zanin e Basseto, mas o empresário não foi localizado.

Posteriormente, ao apresentar sua defesa à Justiça, Basseto disse que a agressão ao então advogado se deu em meio a "fortes discussões ideológicas e políticas" e a ânimos "à flor da pele" motivados pelos ataques de 8 de janeiro.

Disse, ainda, que praticou a agressão "de forma inconsciente" e se colocou à disposição para se retratar da forma como Zanin preferisse.

O ministro do STF, porém, afirmou que a retratação deveria pressupor o reconhecimento da prática de difamação —o que não teria ocorrido até então, uma vez que o empresário alegou ter agido de forma inconsciente.

A defesa do ministro pediu que fosse dada continuidade à ação e defendeu que ela só fosse extinta caso se comprovasse "a efetiva retratação cabal, concreta, com o reconhecimento irrestrito da prática criminosa pelos mesmos meios de divulgação em massa pelos quais as ofensas foram praticadas".

O Ministério Público concordou que o uso do termo "inconsciente" retirou a possibilidade de retratação, mas voltou a defender uma audiência de conciliação. Zanin, no entanto, afirmou que se tratava de uma tentativa do empresário de retardar o andamento da ação. A audiência, então, foi desmarcada.

Em maio deste ano, Basseto publicou um vídeo de retratação em que pedia desculpas ao ministro. A peça foi gravada como parte de um acordo para extinguir a punibilidade pelo crime de difamação.

"Espontânea e respeitosamente, retrato-me e apresento as minhas sinceras desculpas ao advogado Cristiano Zanin, atual ministro do STF", afirmou o empresário no vídeo.

"Esta retratação é de forma cabal, plena, inequívoca e consciente. Declaro publicamente que o advogado e atual ministro Cristiano Zanin não faz jus às palavras ditas por mim naquele dia. Ele não é o pior advogado que possa existir. Pelo contrário, é um excelente advogado e hoje exerce o cargo de ministro em razão da sua competência", acrescentou.

A defesa do ministro pediu que fosse dada sequência à ação em relação ao crime de injúria e à reparação de danos morais, requerendo que Basseto fosse condenado a pagar R$ 150 mil. A demanda foi parcialmente atendida.

"A obrigação de indenizar o querelante [Zanin] quanto aos danos suportados pelos fatos ofensivos à sua honra subjetiva é medida que se impõe", decidiu a juíza, que decidiu fixar a indenização em R$ 10 mil. "A conduta é reprovável, assim, a condenação é a medida a ser imposta."

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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