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Escritora e colunista de gastronomia, formada em educação pela USP.

Uma repolha sem cabeça

A kale, uma folha que parece couve, tem gosto de mostarda e faz bem à saúde

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Não, não vou começar a amolar a todos falando em jabuticabas, mas que elas chegaram, chegaram. E pode ser um momento de felicidade.

Plantação de couve em Osasco - Alberto Rocha/Folhapress

O assunto é outro. São as hortaliças, os legumes, os vegetais. Traduzi um livro de cozinha e a única dificuldade eram eles. São muitos, e o problema é que os nomes e apelidos variam. Outro problema é que não entendo muito deles, sempre comi fazendo um certo esforço, não consigo entender muito bem as folhas e para que servem dentro de um prato. Se vou fazer um menu, entram como purês, mas assim, com verduras verdes tenho problemas. Não ornam. Alguma coisa nas minhas papilas não se dá bem com eles. Nem todos, nem todos.

E agora são os reis, mandam nas refeições, queridinhos dos grandes chefs ---que espertos, ao verem que estavam na moda trataram de enchê-los de mimos, de tratá-los tão bem ou melhor do que as carnes. Já faz tempo isso, mas só agora fui violentamente exposta aos seus nomes, suas texturas, seus tempos de cozimento.

E o livro que traduzi vem de países frios, onde crescem orepolhos, rutabagas, couves-de-bruxelas, bulbos de salsão, brócolis, todos resistentes a chuvas e neves e a maus-tratos e terra ruim. E a kale? Pois que fofoca, todo mundo conhece a kale, menos eu.

Fui atrás, numa garagem orgânica onde me apresentaram como cavolo nero. Outros, lá mesmo, diziam que era couve-tronchuda. Trouxe para casa e aqui me pareceu uma couve, leve gosto de mostarda, mas nada mais que uma couve. Engraçadinha, até, arrepiada. Fui aos livros, é claro, e um deles chama-se “Cinquenta Tons de Kale”, de Drew Ramsey. O que estou perdendo. É preciso nessa etapa da vida tentar conhecer pelo menos uns cinco tons e fazer de tudo para gostar.

O mesmo com brócolis. Já foi um lucro saber que só se escrevem assim. Aliás, só existem assim, no plural, brócolis. E há os grelos, os ninjas, os fractais, e os programas de TV americanos cozinham jantares inteiros em que o ator principal é o brócolis, aliás, os brócolis!

Verdade que batem no liquidificador, juntam amêndoas em lascas, o melhor azeite extravirgem, um pãozinho feito na hora. Mas vocês não imaginam os poderes da kale. Combina com alho, gengibre, nozes,
cebolas caramelizadas, parmesão, batata-doce. Fazem gaspacho de kale, vai bem com chocolate... existe uma "kalonese"!

Quer passar o dia bem? Pegue um copinho de vodca sem a vodca e bata 4 xícaras de kale, 1 kiwi, um pedacinho de gengibre, caldo de meio limão, passe sal nas bordas do copo e estará pronto. Feliz e sem problemas para o segundo turno. Como bônus terá seus hormônios sexuais regulados, e 400 por cento de sua necessidade diária de vitamina C. Ah, e emagrece. É uma crucífera, parente próxima do repolho, do brócolis, do bok choy e daquela detestável couvinha-de-bruxelas. Brassica oleracea. A nossa vingança é que deve ser burra como uma porta. Faz parte das acéfalas, sem cabeça, uma repolha sem cabeça, e superempoderada.

Vamos a ela, tudo pela saúde!

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