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Paulo Vieira, do Jornalistas que Correm, fala tudo sobre corrida –mesmo aquilo que você não deveria saber

Correndo pelo desperdício

É imperioso reduzir a oferta excessiva de copos d'água nas provas de rua

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Recebi em minha casa uma pasta e um estojo, ambos muito austeros. Teriam sido feitos a partir do plástico de copos de água recolhidos durante as últimas edições da famosa corrida – reality show? – de São Silvestre.

Segundo o Movimento Plástico Transforma, que fez o envio e é responsável pela reciclagem, 175 mil copos de água foram recolhidos apenas na última edição da São Silvestre, e então transformados em material escolar e doados à Secretaria Municipal de Educação de Triunfo, no Rio Grande do Sul.

O trabalho é meritório, mas não toca no problema principal: o desperdício. Gastamos demais, bebemos demais, fazemos corridas dispendiosas demais. Reciclar é bom, mas reduzir o consumo evita que esse ato seja necessário.

Largada da 98ª edição da Corrida de São Silvestre, em 2023 - Folhapress

Só para ficar no exemplo da São Silvestre de 2023: considerando que todos os copos d'água usados ali tenham sido reciclados pelo Movimento Plástico Transforma, cada participante da corrida teve direito a cinco – um a cada três quilômetros.

Mesmo sob 40 graus de temperatura, trata-se de um evidente exagero.

Os organizadores, talvez para justificar os altos preços dos eventos, procuram ofertar no Brasil uma hidratação copiosa – e desnecessária. O resultado, muitas vezes, é um consumo muito além do ideal pelo corredor, o que pode inclusive comprometer seu desempenho.

(A carência de água também, mas em eventos feitos no inverno, com temperatura na casa dos 16, 17 graus centígrados, a hidratação é claramente excessiva.)

Eu mesmo corri a última mara SPCity, no fim de julho, e só fui beber meu primeiro copo d'água na altura do km 20. Em 11 maratonas, esse foi meu segundo melhor desempenho. Só não superei a marca de oito anos atrás, quando eu tinha 49 anos. Desnecessário dizer que água na SPCity era abundante desde o começo do percurso.

Jamais chegaremos ao nível de despojamento da maratona Pour Tous, nos Jogos Olímpicos de Paris, em que copos compartilháveis eram enchidos nos tótens com água potável por meio de uma mangueira. Mas é bom olhar para esses exemplos.

Não basta que os organizadores daqui ofereçam empregos e trabalhos temporários quando vão negociar mais um ano de renúncia fiscal ou a prorrogação de um benefício extraordinário concedido no período da pandemia. É preciso começar a oferecer contrapartidas efetivas de sustentabilidade.

E, por favor, não venham com esse custo facultativo jogado para o consumidor para que o evento possa reduzir sua pegada de carbono com modelos "offset", em que se compra crédito de carbono no mercado.

Numa palavra: feio.

Nossas corridas, prenhes de "causas" por trás, erram feio no desperdício. Só para contextualizar: cerca de 1,3% do plástico usado no Brasil é reciclado.

Consumir plástico muito além do necessário é mais ou menos como ir correr levando o carro até o ponto de largada. Entendo que algumas pessoas façam isso para proteger seu patrimônio, ao menos no caso do parque Ibirapuera, já que ir até lá de bicicleta, e prendê-la a um dos paraciclos internos mantidos pela empresa terceirizada que gere o parque, é pedir para ficar a pé.

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