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Paulo Vieira, do Jornalistas que Correm, fala tudo sobre corrida –mesmo aquilo que você não deveria saber

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O custo crescente da corrida

É a mais democrática das atividades físicas até o momento em que você compra tênis responsivo e paga R$ 180 por uma provinha num domingo

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Diz-se que a corrida é a mais democrática das atividades físicas, e é fácil concordar com isso. Correr não exige investimentos em aluguel de campo, quadra ou cancha, deslocamentos, acessórios.

Para correr por aí basta um único equipamento esportivo, o tênis, caso você prefira não sair descalço —o "barefoot" esteve mais na moda nos anos 2010. Até mesmo o calção, como já ensinou o finado escritor estadunidense James Fixx em seu "Guia Completo de Corrida", dá para improvisar a partir de uma calça de brim usada.

O problema parece ser nossa vontade de complicar as coisas. O tênis tem de ser de "performance", responsivo, se possível com elementos de carbono, o que pode jogar a conta lá para a casa dos R$ 1.500. E um par de tênis, lembremos, está longe de durar uma encarnação.

Corrida Track&Field Ibirapuera
Corrida Track&Field Ibirapuera - Adam Tavares/Divulgação

Já para quem está começando, o tênis deve ter, em geral, amortecimento adequado, ainda que os músculos da parte frontal do pé possam dar conta do impacto da corrida sem a necessidade de haver um tamanco sob eles —mas vá encontrar um calçado sem centímetros e centímetros de entressola hoje em dia.

A complicação aumenta quando decidimos participar de provas. Aí o caldo entorna de vez, com o fetichismo da mercadoria se impondo cada vez mais em eventos que se repetem ano após ano sem grandes novidades e que dificilmente custam menos de R$ 150.

Uma prova do Circuito das Estações em junho, em São Paulo, por exemplo, não sai por menos de R$ 189,99. A inscrição mais barata para a maratona de Curitiba, em novembro, custa a partir de R$ 179 quando comprada no último lote, mais próximo do evento.

São Paulo já contou com um circuito de corridas de rua mais popular, nos bairros periféricos, mas o produto foi sendo eviscerado. A Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo promete relançar em 2024 um circuito dessa natureza, mas o edital, que está sob aditamento, já foi descaracterizado, pois o início, previsto para o fim de semana passado, ficou na saudade.

Sobra ainda o Circuito Sesc de Corridas, que ocorre em todo o Brasil. Na capital paulista há a etapa do Sesc Interlagos, em agosto. Santos, em outubro, e São Carlos, em novembro, são outras alternativas não tão distantes. O preço mais alto da inscrição deve ficar em R$ 30.

Já falei aqui do cubano Thomas Cabrera e sua Meia do Butantã, que ocorre em 2 de junho e tem ainda provas de 5 km e 10 km. A inscrição mais barata, cujo kit tem medalha, mas não camiseta, custa R$ 90.

Nada impede, claro, que você saia por aí correndo, dando uma banana para a medalha, para a água de copinho, para o número de peito e para a cronometragem oficial. Mas é difícil não conceder que o ambiente da competição, com ruas interditadas, totem de chegada, kit entregue na véspera e dezenas de fotógrafos a apontar suas câmeras exatamente para a gente, seja hipercontagioso.

Euforia garantida, ou sua endorfina de volta. De qualquer forma, para mim o show não vale quase duzentos mangos.

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