Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.
Extradição de Assange mobiliza interesses
Indisposições e ação estratégica devem definir destino do fundador do WikiLeaks
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Uma complexa teia de interesses, apenas parcialmente conhecida, deve definir o destino de Julian Assange.
Em primeiro lugar, Assange parece ter conquistado a antipatia da imprensa mundial.
Isso se deve, em boa medida, à sua difícil personalidade, que criou muitos atritos com os veículos que divulgaram os telegramas diplomáticos americanos vazados pelo WikiLeaks em 2010. Sua insistência em publicar tudo e sua completa falta de boas maneiras na negociação o indispuseram com editores dos principais jornais do mundo.
A esse histórico de atritos somou-se ainda o ressentimento pelo WikiLeaks ter publicado mensagens vazadas do comitê do Partido Democrata em 2016 que, no final, beneficiaram Donald Trump.
Por fim, o fato de a acusação do governo americano no pedido de extradição para os EUA ter sido circunscrita à conspiração para obter os telegramas, não incidindo sobre a sua publicação, permitiu que a classe jornalística se distanciasse do caso, já que uma eventual prisão de Assange não abriria qualquer precedente para a liberdade de imprensa.
As circunstâncias políticas também mudaram no Equador.
O novo presidente, Lenín Moreno, rompeu com o seu antecessor, Rafael Correa, que tinha concedido o asilo a Assange. Além disso, a falta de modos do asilado irritava os funcionários da pequena embaixada e foi tornando sua presença cada vez mais insustentável do ponto de vista administrativo.
Por fim, a publicação pelo WikiLeaks de documentos que implicavam Moreno num escândalo de corrupção parece ter sido a gota d’água para que o Equador revisse o asilo e suspendesse a sua cidadania.
O papel dos EUA em todo esse processo é ainda obscuro.
O ex-presidente Rafael Correa acusa Moreno de ter revogado o asilo em troca do apoio dos Estados Unidos a um pedido de empréstimo que o país fazia ao FMI.
Assange temia que, se fosse extraditado aos EUA, poderia ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte. A acusação contra ele no pedido de extradição, porém, é circunscrita e a pena, modesta, de até cinco anos de prisão.
Para se ter uma ideia de quão moderada é a pena, Chelsea Manning, acusada de obter e enviar os telegramas ao fundador do WikiLeaks, foi condenada a 35 anos de prisão.
Não está claro em que medida essa pena moderada é uma estratégia do governo americano para conseguir com mais segurança a extradição, se busca apenas impedir que o processo tenha implicações para a liberdade de imprensa, levando os jornais a defender Assange, ou se expressa algum tipo de transigência com o WikiLeaks, que Trump, durante sua campanha, não hesitou em dizer que “amava”.
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