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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

Descrição de chapéu Folhajus

Professores da USP lançam mais um manifesto em defesa da democracia

Documento acumulava cerca de 600 assinaturas até sexta-feira (29)

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São Paulo

O coletivo USP Pela Democracia, formado por professores, estudantes e servidores da universidade, tem colhido assinaturas para um manifesto próprio em defesa da democracia no Brasil, além do que será divulgado no Largo de São Francisco.

Nesta sexta-feira (29), o documento já contava com 600 assinaturas de figuras como Marilena Chauí, Paulo Arantes, Ermínia Maricato, José de Souza Martins, Olgária Matos, Fernando Novais, João Adolfo Hansen, entre outros.

Intitulado "A democracia no Brasil corre risco. Basta", o texto deve ser lido em 15 de agosto, data de retorno das aulas, em um local que ainda vai ser definido.

Praça do relógio, um dos espaços mais conhecidos da Universidade de São Paulo - Adriano Vizoni-26.mar.2021/Folhapress

O professor Paulo Martins, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), diz que o ponto de partida para o manifesto foi a constatação, por parte de um grupo de professoras da universidade, de que os alunos, no retorno às aulas presenciais, estavam completamente alheios ao momento político do país.

"A ideia é a defesa da democracia e uma conscientização política dos estudantes", diz Martins, que participa da mobilização por apoio ao texto.

"Este manifesto tem uma pegada política mais forte, o da Faculdade de Direito é mais amplo na tentativa de aglutinar forças diversas, o que também acho correto. Sou signatário dos dois. O objetivo é o mesmo, acabar com as loucuras de [Jair] Bolsonaro", completa o docente.

"A Universidade abriga, como sabido, diversas tendências ideológicas e político-partidárias no seu interior. Mas o momento exige, de todas e todos, a grandeza de reconhecer, como dever moral e político inadiável, o agir em conjunto pela reconstrução da cidadania brasileira", diz o texto.

O manifesto pode ser lido na íntegra abaixo.

Prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - Adriano Vizoni-26.mar.2021/Folhapress

A democracia no Brasil corre risco. Basta.

Por esta razão nós, docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes da Universidade de São Paulo, propomos ampliar o debate sobre as incertezas e apreensões da conjuntura política afirmando, como exigência democrática, a necessidade de que os direitos sociais declarados na Constituição de 1988 devam ser respeitados e devidamente concretizados. As próximas eleições serão decisivas para o destino de nosso país, num momento em que as desigualdades sociais se aprofundam em ritmo acelerado e que a violência contra as populações vulnerabilizadas tornou-se rotineira e assustadoramente naturalizada.

Em janeiro de 1959, professores e professoras, sentindo-se "mais uma vez convocados", escreveram um texto histórico a favor do direito à educação pública e de qualidade, referido na epígrafe deste documento. Hoje também nos sentimos mais uma vez convocados: a Democracia no Brasil corre risco!

E corre risco porque o passado autoritário parece não ter passado de todo, quando torturadores permanecem impunes por seus crimes e ainda são elogiados publicamente na "Casa do Povo". Esse contrassenso, perpetrado por quem deveria proteger o Estado Democrático de Direito, abriu espaço para a emergência de situações de instabilidade jurídica, assim como para todo tipo de violação de direitos fundamentais. A partir daí avolumaram-se as fake news mais abjetas e arquitetaram-se práticas de lawfare, já utilizadas para o impeachment da presidenta Dilma Roussef, acontecimentos conjugados que deram início ao processo de desconstrução das instituições da República brasileira. As forças que representam o governo atual operam em favor dos interesses da necropolítica neoliberal em escala mundial; e, ao estimularem a expansão das milícias, a grilagem de terras dos povos originários e o garimpo ilegal, indicam a grave corrosão da soberania política interna. Etnocídio e ecocídio irreparáveis.

O desmonte das políticas de fomento à ciência e de preservação do patrimônio cultural comprometem o futuro das próximas gerações e as conquistas consolidadas nas últimas quatro décadas. O ataque neoliberal à educação pública, em que empresários se tornaram mentores de políticas educacionais, amplifica a ameaça contra a qual também se insurgiu o Manifesto de 1959. O negacionismo científico, associado ao anti-intelectualismo, tem sido a marca da ação e da omissão governamental, responsável pela morte (e também pelo deboche) de centenas de milhares de pessoas durante a pandemia do Covid-19. Todo esse quadro se agrava intensamente pela PEC 95 que congelou e definiu para o governo federal, por vinte anos, um teto de gastos com os direitos sociais, medida a exigir revogação imediata.

Como aqueles que tiveram sua liberdade cassada e sua expressão calada pela prisão nos anos de chumbo da ditadura, sentimo-nos na obrigação de reagir aos ataques à Universidade pública e ao Estado Democrático de Direito.

Conclamamos a comunidade da USP ao debate capaz de expressar nossa indignação diante das violações à democracia brasileira. É imperativo que a Universidade pública reafirme o seu compromisso com as políticas que enfrentam a desigualdade social e as discriminações, na defesa do ensino público, gratuito e de qualidade, assim como na manutenção dos programas de permanência e de ação afirmativa sócio-étnica e racial.

A democratização dos direitos implica, além disso, o fortalecimento da Educação Básica pública, que assegure a apropriação do conhecimento e o acesso de todos à Universidade. Esse acesso, no entanto, vem sendo inviabilizado pela nova Lei do Ensino Médio, a qual deve ser revogada. Na mesma direção, manifestamos nossa preocupação com a expansão dos programas de filantropização das creches, com a recente liberalização da educação domiciliar e a militarização das escolas públicas.

Nossa ação acadêmica deve se voltar ainda ao direito à cidade, à saúde, à moradia, à segurança pública, ao trabalho digno, à cultura, ao lazer – ao bem viver, em suma, fundamentos de uma sociedade plenamente democrática.

A Universidade abriga, como sabido, diversas tendências ideológicas e político-partidárias no seu interior. Mas o momento exige, de todas e todos, a grandeza de reconhecer, como dever moral e político inadiável, o agir em conjunto pela reconstrução da cidadania brasileira.

A democracia no Brasil está em risco. Basta.

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