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Nobel da Paz assume poder em Bangladesh e traz esperança de futuro mais justo

Ascensão de Muhammad Yunus, o "banqueiro dos pobres", pode mudar maneira como entendemos a liderança global em tempos de crise

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Daniel Morais Assunção

Fundador do Atados, plataforma que conecta de forma gratuita pessoas a oportunidades de voluntariado em causas sociais.

O mundo está habituado a ver empresários ou tecnocratas assumirem posições de poder, mas raramente testemunhamos a ascensão de um verdadeiro líder social ao cargo mais alto de um país.

Em uma reviravolta inesperada, Muhammad Yunus, pioneiro do microcrédito e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, foi nomeado presidente interino de Bangladesh. Mas o que significa essa mudança para um país marcado por décadas de instabilidade política e desigualdade social?

Após semanas de manifestações lideradas por jovens estudantes, cansados de um governo que se manteve no poder por duas décadas, Bangladesh viu sua primeira-ministra fugir, deixando um vácuo no poder. O governo tentou calar as vozes dissidentes com violência, resultando na morte de 300 pessoas.

O vencedor do Nobel e agora presidente interino de Bangladesh, Muhammad Yunus, gesticula ao se encontrar com familiares de pessoas que desapareceram durante o mandato da destituída primeira-ministra Sheikh Hasina, em Dhaka, em 13 de agosto de 2024 - Indranil Mukherjee/AFP

Em um cenário de caos e desespero, a população, rejeitando a alternativa militar, clamou por um líder com trajetória de credibilidade e compaixão. Ao escolher Yunus, a população de Bangladesh não só demanda estabilidade, mas também uma mudança real e significativa.

Yunus não é um político tradicional. Ele é conhecido como o "banqueiro dos pobres", título que reflete sua missão de vida: empoderar populações mais vulneráveis por meio do acesso ao crédito. Seu Grameen Bank revolucionou o sistema financeiro, oferecendo microcrédito para aqueles que os bancos convencionais ignoravam.

Mais de 7 milhões de pessoas naquele país foram beneficiadas por essa iniciativa, que tem taxa de inadimplência de apenas 1%. Além disso, Yunus também fundou a Grameenphone, operadora de telefonia social com 83 milhões de assinantes, mostrando que é possível combinar negócios e impacto social de forma sustentável.

Estive presente em eventos com Yunus no Brasil, nos quais ele disseminou sua visão inovadora e inspirou muitos empreendedores a seguirem seus passos. Sua presença no país em um roadshow no ano passado, em que conversou com líderes políticos e apareceu em programas de grande audiência, como o "Conversa com Bial", demonstrou sua influência global e a relevância de suas ideias, que são replicadas em diversos modelos de negócios por aqui.

Mas será que essa experiência como empreendedor social será suficiente para lidar com os desafios complexos de governar um país?

A liderança de Yunus será testada como nunca antes. Bangladesh enfrenta uma série de problemas urgentes, desde a violência sectária entre muçulmanos e hindus até uma economia frágil que exige reformas profundas.

Yunus terá que aplicar sua filosofia de negócios sociais em um cenário em que soluções simples não existem e a paciência do povo pode rapidamente se esgotar.

No entanto, é exatamente essa perspectiva única que pode trazer a tão necessária mudança. Yunus sempre defendeu que o desenvolvimento econômico deve ser inclusivo e sustentável, e agora ele tem a oportunidade de implementar essa visão em escala ainda maior.

Seu sucesso ou fracasso como líder pode não apenas determinar o futuro do país, mas também influenciar a forma como entendemos a liderança global em tempos de crise.

Pessoalmente, vejo com otimismo esse momento. Em um mundo em que a política está cada vez mais desacreditada, a ascensão de alguém com histórico de verdadeira preocupação social e inovação é um sopro de esperança.

Contudo, sei que os desafios são imensos, e que ele precisará de todo o apoio possível, tanto dentro quanto fora de Bangladesh, para ter sucesso.

Esse cenário nos faz pensar: e se aqui no Brasil também apostássemos em líderes com essa mentalidade?

Empreendedores sociais, com sua habilidade de criar soluções inovadoras para problemas complexos, poderiam trazer uma nova dinâmica para a política brasileira, tradicionalmente dominada por interesses econômicos e partidários. Por que, então, esses líderes relutam em entrar na política?

Há, sem dúvida, uma série de barreiras. A política brasileira, com suas armadilhas e dificuldades, não parece terreno fértil para aqueles que querem fazer a diferença de forma genuína. Mas se queremos um país mais justo, talvez seja hora de começarmos a considerar seriamente essa possibilidade.

Então, deixo a pergunta: qual empreendedor social você gostaria de ver liderando o Brasil? Quem, entre os muitos inovadores que temos, poderia trazer uma mudança real, como Yunus está tentando fazer em Bangladesh? A resposta a essa pergunta pode ser o primeiro passo para um futuro diferente.

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