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Descrição de chapéu Consciência Negra

Afrofuturismo inspira avanços na filantropia negra

Tema do Mês da Filantropia Negra, práticas ancestrais de solidariedade podem contribuir para um futuro mais justo

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Thais Nascimento

Coordenadora de Projetos do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), graduada em ciências sociais, jornalista e pós-graduanda em ESG e sustentabilidade corporativa pela FGV (Fundação Getúlio Vargas)

Keilla Martins

Especialista em diversidade e inclusão na Aegea Saneamento e coordenadora do Programa Respeito Dá o Tom

A filantropia negra emerge como força transformadora em um país marcado por profundas desigualdades.

Práticas solidárias entre pessoas negras, nascidas das injustiças da escravidão, ainda prosperam nas comunidades e permanecem como um dos mais importantes e, muitas vezes, subvalorizados patrimônios culturais.

Tal movimento não se resume à doação de recursos financeiros e inclui a inovação e a criatividade das pessoas negras em apresentar soluções para melhorar suas vidas e comunidades.

A imagem mostra uma manifestação em uma cidade, onde um homem carrega uma menina em seus ombros. A menina, com cabelo cacheado e vestido claro, levanta o punho em sinal de protesto. O homem, com uma camiseta escura e boné, também levanta o punho. Ao fundo, há várias pessoas e bandeiras coloridas, além de prédios altos e árvores.
Ativistas e grupos antirracistas na 19ª Marcha da Consciência Negra, em 2022, saindo do Masp, na avenida Paulista, até o Theatro Municipal, na região central de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

A filantropia negra é vista como caminho para um futuro mais equitativo e justo. Intelectuais como Nêgo Bispo atualizam seu significado ao propor uma alternativa civilizatória baseada na chamada biointeração.

Ela se baseia no conceito de contracolonização do desenvolvimento sustentável —uma comunhão harmoniosa entre humanos e natureza, desenvolvida dentro de uma dinâmica comunitária e coletiva, em que as práticas de cultivo, coleta, uso e compartilhamento são fundamentais.

Complementando as ideias de Nêgo Bispo, o afrofuturismo, tema do Mês da Filantropia Negra 2024, uma iniciativa da The Wise Fund em parceria com o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), assume papel essencial ao projetar um futuro mais empoderado para comunidades e organizações negras.

Esta corrente cultural e filosófica amplia as perspectivas da filantropia negra ao integrar tecnologia, cultura e ancestralidade. O afrofuturismo não só enriquece as possibilidades de doações e finanças comunitárias em escala global como também propõe uma reflexão crítica sobre o futuro dessas práticas.

Organizações como a Irmandade da Boa Morte exemplificam essa visão. Confraria religiosa afro-católica centenária, ela se empenhou na libertação de inúmeros escravizados por muitos anos, desde sua fundação. Ainda hoje, mantém seu compromisso social com foco na educação.

Outra inspiração é o Instituto Rainhas do Mar. Fundado em 1996, em Acupe —comunidade quilombola e pesqueira no município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano— o instituto inicialmente se dedicava à elaboração de ciclos de economia comunitária.

Com o tempo, defesa e proteção do território se tornaram prioridades para a organização, que passou a concentrar sua missão no desenvolvimento de autonomia, justiça social e garantia de direitos para povos quilombolas e comunidades pesqueiras.

No universo do investimento social privado e da filantropia, importantes ações têm sido realizadas para que pessoas negras estejam em decisões estratégicas e planejadoras de práticas para o futuro. Um exemplo é o Programa Dá o Tom, desenvolvido pela Aegea junto ao seu instituto, braço das iniciativas de impacto socioambiental da empresa.

Criado em 2017 para refletir a demografia brasileira no quadro de colaboradores da Aegea e de suas concessionárias, o programa foi expandido para incluir iniciativas pela equidade de gênero e de raça em todos os níveis hierárquicos da companhia.

Com metas para aumentar a representatividade de talentos negros e mulheres em cargos de liderança até 2030, a empresa se comprometeu publicamente com a diversidade racial e de gênero, confirmando o impacto positivo de estratégias estruturadas.

A filantropia negra não apenas honra práticas ancestrais de solidariedade, mas também vislumbra um futuro mais justo e equitativo. Ao integrar justiça social e ambiental, essas práticas asseguram o bem-viver das pessoas negras e criam um futuro melhor.

As discussões propostas neste Mês da Filantropia Negra, coordenado nacionalmente pelo Gife, são apenas o começo. Esse movimento inspira mudanças positivas na filantropia, buscando desconstruir padrões e valorizar as vozes e necessidades das comunidades negras, promovendo um amanhã melhor para toda a sociedade.

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