Empreendedores sociais apontam caminhos para reduzir desigualdades no Brasil

No terceiro episódio da série Papo de Responsa, referências do terceiro setor discutem cultura de doação, democracia e desenvolvimento social

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São Paulo (SP)

Líderes de organizações e negócios sociais premiados em diferentes edições do Empreendedor Social se reúnem em mais um capítulo da série especial 'Papo de Responsa', exibida pela TV Folha, para relembrar suas trajetórias e discutir estratégias de redução das desigualdades socioeconômicas no país.

O episódio desta quinta-feira (8) é dividido em 4 blocos com mediação de Eliane Trindade, editora do prêmio e do Folha Social+.

O primeiro deles traz o educador Tião Rocha, presidente do CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento) e vencedor do prêmio em 2007, e o administrador Fernando Assad, presidente da Vivenda e vencedor do Empreendedor Social de Futuro em 2015.

Tião Rocha abriu a conversa falando sobre o processo de criação da ONG que promove educação popular e desenvolvimento comunitário por meio da cultura. "No Vale do Jequitinhonha, onde começamos a atuar há 25 anos, a primeira pergunta era 'como fazer para não perder nenhum menino para o corte de cana?', porque esse era o destino de todos jovens ali", conta.

Defendendo a ideia de que "não se pode perder os jovens para o atraso, mas sim para o futuro", o educador relembra casos de 15 jovens que participaram dos projetos do CPCD e, posteriormente, conseguiram ingressar na companhia de balé Bolshoi e na Universidade de Música Popular em Barbacena (MG), a Bituca.

"Aprendi em Moçambique que para educar uma criança é necessária toda uma aldeia. Daí eu resolvi ser um convocador de aldeia para não perder nenhum menino", diz.

Fernando Assad expressou sua gratidão por Tião Rocha e pelo impacto do CPCD em sua jornada à frente da Vivenda, negócio social que promove melhoria habitacional para pessoas em situação de vulnerabilidade. Ele destacou a necessidade de políticas públicas que possam alavancar iniciativas como a dele.

"Quando começamos a explorar mais a questão da moradia, vimos que, em programas públicos de urbanização de favela, o investimento é prioritariamente em áreas públicas, em ruas, saneamento, praças, mas boa parte das casas fica como era antes. Ainda tinha moradia sem banheiro ou com cobertura inadequada", explica.

A imagem mostra uma videoconferência com três participantes. No topo, uma mulher com cabelo longo e escuro, usando óculos e uma blusa laranja, sorri. Abaixo, à esquerda, um homem com cabelo curto e barba, vestido com uma camisa camuflada, também sorri. À direita, um homem mais velho, com cabelo grisalho e um chapéu, parece estar ouvindo atentamente. Ao fundo, é possível ver um ambiente de escritório com mesas e livros. Na parte inferior da imagem, há um texto que diz: 'Papo de Resposta | 20 anos do Prêmio Empreendedor Social'.
A jornalista Eliane Trindade, Fernando Assad (Vivenda), à esquerda, e Tião Rocha (CPDC), à direita - Reprodução/TV Folha

Desafios para atingir o desenvolvimento social

O segundo bloco do programa reuniu o cientista político Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública e vencedor do Prêmio Empreendedor Social em 2015, e a empresária Alcione Albanesi, presidente da Amigos do Bem e vencedora da categoria Escolha do Leitor do concurso em 2019.

Em 2014, Albanesi vendeu um negócio milionário para se dedicar à ONG que desenvolve projetos de educação, geração de renda e acesso à água nos estados do Alagoas, Pernambuco e Ceará.

"Você tem que ter constância, e persistir, porque não é nada fácil. Iniciamos os Amigos do Bem em um tempo difícil, quando se falava de caridade e as pessoas nem escutavam", diz ela.

Seguindo a mesma linha, Andrade, líder da organização que busca aprimorar os serviços públicos brasileiros, fala sobre a participação da sociedade na elaboração de políticas públicas.

"Há um desafio de fazer com que haja desenvolvimento, para que os benefícios dos royalties, das receitas geradas [em projetos de infraestrutura, mineração etc.] cheguem à população. Por meio das políticas públicas, há o melhor arranjo de governança, com todos participando em processos que vão levar a melhorias de indicadores de desenvolvimento."

Cultura de doação e democracia

No terceiro bloco, Carola Matarazzo, diretora-executiva do Movimento Bem Maior, e Paula Fabiani, CEO do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), ambas reconhecidas pelo prêmio em 2020 por organizações que fomentam a cultura de doação, conversaram com Gabriel Marmentini, cofundador e diretor-executivo da Politize! e vencedor da Escolha do Leitor em 2022.

Matarazzo relembrou a união de Movimento Bem Maior, Idis e B Social durante a pandemia. "Em uma semana, colocamos de pé um fundo emergencial para a saúde. Foi um desafio enorme. Éramos três organizações em estágios organizacionais diferentes e que nunca tinham trabalhado juntas."

Em seguida, Fabiani comenta que o sucesso do fundo emergencial a surpreendeu. "Lembro-me de pensar que se a gente chegasse em R$ 5 milhões, já seria uma grande vitória. E chegamos a R$ 40 milhões. Beneficiamos cerca de 60 instituições no país."

Marmentini, líder da organização dedicada à educação política, fala sobre o fortalecimento da democracia por meio da educação e conscientização dos jovens.

"As pessoas que acompanham o nosso trabalho e que estão mais perto da gente, especialmente nos movimentos de voluntariado, veem na Politize! um espaço seguro para aprender sobre política", diz ele. "Sua forma de pensar, sua orientação sexual, seu gênero, nada disso importa, o que importa é a gente estar junto, construindo soluções para a sociedade."

Articulação do terceiro setor

O último bloco traz Rodrigo Pipponzi, cofundador do Grupo Mol e vencedor da premiação em 2018, e David Hertz, fundador da Gastromotiva e vencedor do Empreendedor Social de Futuro em 2009.

Pipponzi fala sobre o significado da chancela concedida por Folha e Fundação Schwab, explicando que se sentiu validado enquanto líder da editora de impacto social que produz revistas e livros e reverte a verba para organizações sociais.

"Estudei outros ecossistemas na América Latina, Europa, Estados Unidos. E acho que, no Brasil, a gente tem uma riqueza de soluções, ideias, capacidade de investimento, articulação e inteligência social."

Hertz, líder da ONG que usa a gastronomia para a transformação social, ressaltou como o concurso ajudou a estruturar a Gastromotiva e expandi-la globalmente.

"São 20 anos de experiência. Já formamos milhares de cozinheiros e empreendedores de alimentação no Brasil, distribuímos mais de 5 milhões de refeições e temos uma escola no México."

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