Enquanto o presidente Jair Bolsonaro discursava na ONU, maldizendo ONGs ambientalistas e indígenas “massa de manobra”, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmava em evento em Nova York que os estados brasileiros vão cumprir seu papel no Acordo do Clima.

“Diante dos riscos de retrocesso por parte de nosso governo nacional, os estados brasileiros decidem assumir resolutamente seu papel”, disse Câmara, conforme relatou a repórter Ana Carolina Amaral. Ele discursou em nome de 11 estados brasileiros (os nove estados da região Nordeste e o Espírito Santo). Em abril, havia sido lançado  o movimento Governadores pelo Clima, para garantir a implementação dos princípios do Acordo do Clima de Paris.

Também enquanto Bolsonaro discursava na ONU, negando que houvesse queimadas na Amazônia e alfinetando o “colonialismo” francês, o governador do Amapá, Waldez Góes, reunia-se com o presidente da França, Emmanuel Macron. Góes é presidente do Consórcio da Amazônia Legal (que reúne Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e discutia maneiras de manter o financiamento de países europeus para programas de proteção ambiental na Amazônia. Uma das possibilidades, segundo Waldez disse à Folha, seria financiar diretamente os estados, uma vez que o governo federal vem bloqueando iniciativas.

Os governadores do consórcio da Amazônia se reuniram neste mês com embaixadores da Alemanha, da França, do Reino Unido e da Noruega, entre os principais doadores de recursos para proteção da Amazônia. Eles terão uma segunda rodada de reuniões com esses embaixadores em outubro. Os governadores negociam a manutenção do Fundo da Amazônia e outros programas de financiamento.

Mas a movimentação dos estados, driblando o governo federal, não se restringe ao meio ambiente.

Enquanto os EUA pressionam o governo Bolsonaro para barrar certos investimentos chineses no país, principalmente os da Huawei, os nove estados do Consórcio do Nordeste intensificam suas relações com o país asiático.

As empresas chinesas de tecnologia Huawei, ZTE, Dahua e Hikvision, todas sob algum tipo de embargo americano sob acusação de representarem ameaça à segurança nacional, estão negociando ou fornecendo serviços e produtos no Nordeste.

E o intercâmbio entre a China e os nove estados nordestinos nunca foi tão intenso.

Essa rebelião dos estados brasileiros é semelhante à movimentação de governadores e prefeitos americanos, que se insurgiram contra algumas políticas do presidente Donald Trump.

Um total de 24 estados, entre eles a Califórnia e Nova York, comprometeram-se a continuar seguindo as orientações do Acordo do Clima de Paris, apesar de Trump ter retirado os Estados Unidos do tratado.

Estados e cidades americanas também estão peitando o governo federal em relação à política para migrantes. Enquanto Trump insiste na linha dura contra migração e intensifica as ações para deportar ilegais, várias cidades se transformaram em “santuários” e tentam proteger migrantes.

Essa rebeldia não sai de graça. Trump tenta cortar recursos do governo federal para os insurgentes – tentou brecar dinheiro para armamento das polícias de cidades santuário, por exemplo, mas foi impedido por decisão judicial.

A ver qual será a reação do governo federal no Brasil.