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É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

Não existe dilema 'economia' versus 'saúde pública'

Na coluna de hoje, entrevistei o economista Thomas Conti do Insper. Como dizemos aqui no Sul: 'é de cair os butiá do bolso'

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Pedro Hallal - O Palácio do Planalto diz repetidamente que o Brasil sofre com dois vírus: a Covid-19 e o desemprego. Como está sendo a atuação brasileira no enfrentamento da Covid-19 em comparação a outros países?

Thomas Conti - A atuação brasileira está muito ruim no comparativo internacional. Fechamos 2020 com queda de 4,1% no PIB apesar de termos feito o maior estímulo fiscal da América Latina. E mesmo ponderando pelo tamanho da população, estamos perto de 1.600 óbitos por milhão de habitantes, taxa superior à média da União Europeia, cujos países têm proporção de idosos 2-3 vezes maior que a do Brasil.

E no enfrentamento do desemprego?

A população ocupada caiu 8,2 milhões no Brasil, comparando janeiro de 2020 com 2021, e o desemprego subiu de 11,2% para 14,2%. Com o surto atual da pandemia, tende a piorar. Dados internacionais de desemprego demoram mais para ser atualizados, mas estamos com uma das cinco maiores taxas de desemprego das Américas. Nos Estados Unidos, o desemprego está em 6%.

Países como Nova Zelândia, Vietnã, Taiwan, Austrália, Coreia do Sul e a própria China são exemplos bem-sucedidos no enfrentamento da Covid-19? Como está a economia nesses locais?

Os países que adotaram a estratégia "Covid Zero", com objetivo de suprimir o máximo possível a transmissão do vírus, colheram frutos tanto para a saúde pública quanto para a economia. Vietnã e Taiwan tiveram crescimento de 3% e, juntos, não somaram 50 óbitos por Covid-19. A China cresceu 2,3%. Austrália e Coreia do Sul tiveram queda de 1% e Nova Zelândia queda de 3%.

Somando os óbitos por Covid-19 em todos esses países desde o começo da pandemia morreram menos pessoas que nos últimos dois dias no Brasil. E nosso PIB caiu 4,1%.

Como constatou o macroeconomista Charles Jones, de Stanford, o suposto dilema saúde-economia se mostrou um falso dilema, como eu, você, e muitos outros economistas e epidemiologistas vinham avisando.

Tivéssemos comprado as doses ofertadas pela Pfizer e pela Coronavac em 2020, estaríamos nessa crise econômica ou já em recuperação?

Essas doses ajudariam muito, porém o mais provável é que ainda estaríamos em crise. Como vemos no Chile, que está com a vacinação mais avançada que nós, o país ainda está vulnerável ao vírus e, talvez, o excesso de otimismo com a vacinação faça mais pessoas baixarem a guarda das medidas de distanciamento, higiene e máscara.

Para evitarmos a crise atual só vacinas não seriam suficientes, precisaríamos ter feito medidas competentes de combate à pandemia, em especial para conter a dispersão da variante P.1.

Botijão de gás, arroz e feijão, dólar, gasolina, tudo com preços recordes no Brasil. Desemprego bombando. De quem é a culpa?

A lista de culpados é extensa, mas sem dúvida o descontrole da pandemia é a causa maior da piora na situação econômica. Infelizmente, em nível federal, houve sistemática subestimação da gravidade da pandemia, deixando de agir quando necessário e até agindo contra o combate ao vírus em diversas situações.

Duas semanas atrás, eu e mais centenas de economistas assinamos uma carta pedindo bom senso e algumas ações básicas, em respeito ao país. Muitos no governo interpretaram como um ataque. Se pedir o básico é visto como um ataque, acredito que isso diga mais sobre o governo do que sobre nós.

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