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Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

'Medida Provisória', de Lázaro Ramos, oxigena país tão asfixiado

Filme nos faz sonhar com um Brasil onde nossos filhos não sejam criados em cima de memórias dolorosas

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Inspirado em nomes como Jorge Furtado, Karim Aïnouz e Jordan Peele, "Medida Provisória" transita por "Se a Rua Bele Falasse" e sai do lugar comum das produções com gente preta: a dor e as certezas absolutas.

Cenas do filme Medida Provisória - Mariana Vianna/Divulgação

Lázaro Ramos traz um novo contexto ao assumir o papel de showrunner, assinando o projeto inteiro do filme. Desbravando um mundo ainda novo do streaming e focado em disputar mercado, "Medida Provisória" se apresenta em um tempo de mercado carente de regulamentação, principalmente de regras trabalhistas, com muito espaço para atrair recursos, precisando emplacar, fazer receita para fazer jus ao investimento. Desnuda intimidades e tensões raciais que nos levam ao ambiente entre o desassossego e a libertação, com alternativas de leituras, nos convidando ao diálogo.

Ele foge da unanimidade e concordância, refletindo o compromisso de uma produção instigante, em que pessoas pretas ocupam espaços sem estereótipos e jargões, que forjam o imaginário social de servidão e violência.

O hip hop, sobretudo a música rap, cruza o filme, unindo gerações, que vai de Emicida, passando por Rincon Sapiência, deliciando-se com a voz de Agnes Nunes, e indo de Liniker a Elza Soares. Nos deparamos ainda com o Afro Bunker, onde Lázaro reflete seu sonho de mundo ideal, confrontando a desumanidade com pessoas pretas que se tornou política de estado, entre o distópico e a realidade.

Mais de 70 atores pretos formam o elenco, participando da elaboração à execução, com participação internacional de Alfred Enoch, da série "How to Get Away with Murder". Destaque para as atuações de Seu Jorge e Taís Araújo.

Que "Medida Provisória" se espalhe como um vírus, nos fazendo sonhar com um país onde nossos filhos não sejam criados em cima de memórias dolorosas, sempre pela lente da misericórdia, e não pela liberdade por inteiro.

O tempo todo respiramos possibilidades na indústria do cinema tão perseguida. Que essa atmosfera se espalhe mais que qualquer vírus, que o sonho de Lázaro possa dar as bases para uma virada de jogo, onde essa gente preta e poderosa se põe de pé em um Brasil que ainda nos pertence. Para dizer em alto e bom som que este país, apesar de todas as atrocidades, é nosso e vamos honrá-lo e torná-lo referência, a partir da matéria-prima e das competências que temos de sobra.

A medida provisória da esperança sai das telas para a vida real, oxigenando um país tão asfixiado, nos pegando no colo, com canções de ninar como uma preta velha sábia e carinhosa. Uma medida provisória que emana do povo que compõe a constituição de afeto em cada palavra de amor. Assistam e se deliciem.

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