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Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

Precisamos voltar a ser o país do Zé Gotinha

Bolsonaro e seu desprezo por vacinas deixaram muitas sequelas

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Quem lê notícias hoje sobre vacinação até esquece que o Brasil foi referência em imunizações. O homem que ocupava a Presidência durante a pandemia não tem vergonha de repetir que não se vacinou contra a Covid-19. De referência, o Brasil passa a ser vergonha mundial, em que o ex-presidente é investigado por fraudar cartão de vacina, dele e de sua filha menor de idade.

Nem sempre foi assim. Foram décadas de políticas para o Brasil se tornar modelo em termos de logística e comunicação sobre imunizações. O Programa Nacional de Imunizações, por exemplo, universalizou o acesso a vacinas e completa meio século neste 2023.

O Zé Gotinha virou ícone de gerações desde que foi criado, em 1986. Por meio de uma comunicação acessível e educativa com as crianças, Zé Gotinha foi peça fundamental para a erradicação da poliomielite no país. A comunicação efetiva, somada a uma logística ampla e eficiente, viabilizou que a cobertura das demais vacinas também melhorasse, como sarampo e rubéola.

A volta do Zé Gotinha - @artevillar1 no Twitter

Mas ele não atuou sozinho. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu a obrigatoriedade de vacinação em casos recomendados pelas autoridades sanitárias, e o Bolsa Família sempre teve como condicionalidade manter a caderneta de vacinação em dia.

Foi assim, por meio de políticas articuladas, que o Brasil passou a ter uma das populações mais imunizadas do mundo.

Nos últimos anos, as coberturas vacinais vêm caindo e as metas não têm sido alcançadas. Doenças já controladas voltam a ser motivo de preocupação. A poliomielite, a mesma que Zé Gotinha trabalhou tanto para erradicar, atingiu apenas 52% de cobertura vacinal em 2022. Surtos recentes de sarampo, cuja vacinação cai a cada ano, ameaçam a população. Sem falar nas centenas de milhares de vidas perdidas para a Covid-19 que poderiam ter sido evitadas se imunizantes tivessem sido comprados a tempo.

Criança recebe vacina contra a poliomielite em São Paulo - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A desconfiança contra as vacinas, profundamente alimentada pelo ex-presidente, tem base em notícias falsas. Um dos maiores mitos sobre vacinas afirma que elas causam autismo e surgiu de um estudo fraudulento de 1998. O pesquisador foi desmascarado e teve sua licença cassada. Desde então, a relação entre vacinação e autismo foi bastante investigada e nunca provada. Tem tanto fundamento quanto achar que vai virar jacaré se tomar vacina.

Bolsonaro e seu desprezo por vacinas deixaram muitas sequelas: crise de saúde pública, descrédito das instituições, democracia fragilizada. Reconquistar a confiança da população nas vacinas é urgente, com políticas e comunicação constante. Enquanto isso, vemos a volta de doenças graves, antes que possamos voltar a ser o país do Zé Gotinha.

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