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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Brasil só não será periferia do futebol se a seleção for forte

Times precisam manter jovens e não buscar o que não serve para a Europa

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O belga Origi fechou a vitória do Liverpool por 2 a 0 e garantiu o sexto título de Champions League do clube. A festa inglesa em Madri foi linda, cheia de ingredientes daquilo que se convencionou chamar de globalização. O egípcio Salah, vítima em 2018, virou herói africano do titulo europeu. O alemão Klopp impediu que o argentino Pochettino se tornasse o primeiro técnico não europeu a vencer desde Helenip Herrera, em 1965.

O óbvio ululante salta aos olhos numa volta ao mundo em dez dias. Na quarta, eu estava na final da Liga Europa, em Baku, no Azerbaijão. No sábado, decisão da Champions League, em Madri. No meio do caminho, três conexões na Turquia. A cada conversa, a visão completa da aldeia global em que se transformou o futebol.

Alisson, Fabinho e Firmino comemoram conquista da Champions League pelo Liverpool - JAVIER SORIANO/AFP

O motorista que me leva ao aeroporto de Baku, Rashad, torce pela Juventus: “Sempre pelo time de Cristiano Ronaldo.” Também gosta do Qarabag, do Azerbaijão, que passou a jogar na capital depois de os jogadores terem voltado de uma viagem e encontrado todos os parentes mortos na cidade que dá nome ao clube, fronteira com a Armênia. A guerra mudou o endereço do time.

A seleção do Azerbaijão tem um meio-campista brasileiro. Richard Almeida é corintiano doente, nasceu no bairro do Grajaú, zona sul de São Paulo. “Se jogarem Azerbaijão x Brasil, torço pelos dois. Aqui e é minha segunda Pátria.”

O Chelsea venceu o Arsenal na quarta. O clássico inglês valia um título europeu, foi disputado na Ásia, com 22 jogadores escalados e só um britânico: Maitland-Niles.

Até 1978, não havia permissão para jogadores estrangeiros na Inglaterra. Os que jogavam eram os residentes, como o alemão Trautmann, goleiro do Manchester City na década de 1950. Fixou residência, após ter sido prisioneiro de guerra.

Na Itála, a reabertura do mercado se deu em 1980, após 14 anos de clausura.

Até hoje, os ingleses tentam evitar a globalização. Quando tem jogo da Premier League, nenhuma TV pode transmitir outro campeonato estrangeiro.

No início, contratar atletas de outros países era decisão técnica. Depois, juntou-se o aspecto mercadológico. Ocorreu o mesmo no basquete. O primeiro forasteiro da NBA foi o italiano Biasatti, em 1946. Na temporada passada, houve 108 estrangeiros de 42 nacionalidades. Quando um chinês joga basquete nos EUA, há um torcedor-consumidor-cliente na China.

Nesse mundo louco, o Brasil só não será periferia se a seleção for forte. Os clubes precisam se fortalecer e, arrecadando mais de R$ 500 milhões/ano, pensar em manter jovens craques em vez de vender para contratar os que não servem na Europa. Melhor convencer Vinicius Junior a ficar aqui por três anos do que trazer De Arrascaeta. Mas ninguém parece acreditar nisso e, consequentemente, os jogadores não acreditam. Querem ir. Só será diferente quando houver um campeonato forte.

Tom Jobim nunca disse que a única saída para o músico brasileiro é o aeroporto. Logo, a única saída para o jogador não pode ser Cumbica, ou Galeão. Mas o único antídoto para a doença do futebol brasileiro, a de ser subúrbio do mundo, é incorporar-se à economia do futebol. Para os clubes, entender quem se deve vender e quem se precisa manter. Estrategicamente, pode ser benéfico segurar um craque e ganhar projeção mundial com sua marca, como o Santos fez com Neymar e o Flamengo poderia conseguir com Vinicius Junior.

Tem gente no Peru que torce pelo Corinthians por causa de Paolo Guerrero, assim como Rashad escolheu a Juventus por Cristiano Ronaldo. Mas, hoje, o Brasil só é visto por causa da seleção. Também é necessário cuidar dela.

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