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Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

Queda de auxiliar de Guedes demonstra que não existem super ministros

Interlocutores do ministro acreditam que ele não desistirá do imposto, mas vai recuar e aguardar o momento mais adequado

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Nas histórias em quadrinhos, os super heróis tem visão de raio-X, força extrema e são invencíveis. Na vida real, o “super ministro” Paulo Guedes não percebeu o golpe que o atingiu.

Na segunda-feira (9), o jornal Valor publicou uma entrevista em que Guedes admitia a volta da CPMF. Na terça-feira (10), o ministro fez defesa enfática do imposto a interlocutores ouvidos pela coluna.

Na quarta-feira (11), foi obrigado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) a demitir Marcos Cintra, chefe da Receita Federal e mentor do novo tributo sobre transações financeiras.

Nas conversas anteriores a saída de Cintra, Guedes reconhecia que a CPMF é um péssimo instrumento, porque é cumulativa, incidindo em cascata, e regressiva, já que onera mais os pobres. Ainda assim, o ministro defendia o tributo como alternativa para desonerar a folha de pagamentos e tentar gerar empregos.

O ministro Paulo Guedes (Economia) durante cerimônia de lançamento do Novo Mercado do Gás, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 23.jul.19/Folhapress

O diagnóstico da importância de reduzir o peso dos impostos no custo das empresas com mão de obra é correto. Todos concordam que a pesada carga tributária sobre o trabalho desestimula o emprego formal.

O problema é a administração do remédio, pois a desoneração da folha já foi testada no governo Dilma e não deu certo.

Sem demanda adicional, as empresas não criam novos postos de trabalho. Em tempos de crise, qualquer redução da carga tributária tende a se transformar em aumento de margem de lucro pelas empresas. O que gera emprego mesmo é crescimento econômico.

Guedes parecia insensível aos argumentos contrários e havia encasquetado com o CPMF por causa da sua capacidade de arrecadação em qualquer setor da economia. Dizia isso aos poucos que ousavam contraria-lo.

O titular da Economia falava abertamente sobre a volta do tributo sobre transações financeiras —considerado um tabu no país— porque acreditava que a resistência estava diminuindo.

O tom havia sido ditado pelo próprio Bolsonaro que, depois de negar diversas vezes a retomada da CPMF, passou a admitir a possibilidade desde que houvesse uma contrapartida.

Quando a demissão do chefe da Receita pegou o mercado de surpresa, ninguém entendeu nada. Até que, num tuíte, o presidente fez questão de dizer que era ele que havia decidido dispensar o secretário, passando por cima do ministro.

O voluntarismo de Bolsonaro —que insiste em mostrar autoridade mesmo do leito do hospital onde se recupera de mais uma cirurgia— é um dos problemas de Guedes. O outro é a inchada estrutura do seu super ministério.

Pessoas que acompanham a máquina pública de perto dizem que muita coisa fica parada à espera do ministro. E que esse seria um dos motivos do Executivo estar a reboque do Legislativo na reforma tributária. O governo ainda nem apresentou sua proposta e já circulam três outras alternativas no Congresso.

Interlocutores de Guedes acreditam que ele não desistirá do imposto, mas, pragmático, vai recuar e aguardar um momento mais adequado. Aliás, já fez isso na reforma da Previdência, quando a resistência do Congresso acabou com o sistema capitalização que tanto defendia.

Guedes ainda é de suma importância para Bolsonaro, porque, desde a campanha, o “posto Ipiranga” se tornou o fiador do governo junto ao mercado. Todavia, como a constante fritura do titular da Justiça, Sérgio Moro, demonstra, super heróis ou super ministros só existem na ficção.

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