O PSG eliminou o atual campeão da Champions League, o time a ser batido na Europa e no mundo todo, após jogos emocionantes nas quartas de final, e o torcedor brasileiro, em especial, tem motivos para se orgulhar disso.

Por incrível que pareça, não estou falando de Neymar ou da vitória épica da equipe parisiense sobre o poderoso Bayern de Munique. Houve um outro PSG que eliminou outro gigante europeu (o Lyon) com a participação essencial de uma brasileira.

Nas quartas da Champions League feminina, o improvável aconteceu. Se muitos não acreditavam que Neymar, Mbappé e companhia conseguiriam derrubar os campeões do Bayern nesta edição da competição europeia, seria ainda mais raro encontrar quem apostasse convicto numa eliminação das atuais heptacampeãs da Champions feminina (considerando que, nos últimos cinco anos consecutivos, o troféu ficou com elas).

Se do lado do PSG masculino Neymar é o craque que todo mundo reverencia, no PSG feminino está uma craque que ninguém vê. Aos 43 anos, Formiga jogou como titular nas duas partidas contra o Lyon e, como sempre ao longo da longa carreira, foi a protagonista sem holofotes.

Com a lesão de sua companheira de time e de seleção, Luana, Formiga foi ainda mais importante dentro de campo. É ela quem faz o “serviço sujo” para que as atacantes possam brilhar lá na frente. E, convenhamos, conseguir jogar em alto nível aos 43 anos na principal competição de clubes do mundo não é para qualquer um.

“Temos muita segurança com a Formiga (em campo), até pela posição em que ela atua —de extrema importância para dar o equilíbrio pro time. Ela faz muito bem esse papel. A liderança dela é muito natural, pelos exemplos que ela passa no dia a dia. A forma como ela se dedica nos treinos é inspiradora para quem está ao redor dela. Todas conhecem e respeitam muito a história da Formiga no futebol”, descreveu a meio-campista Luana, que precisou acompanhar de longe a vitória épica do PSG por 2 a 1 sobre o Lyon na Champions.

Como não respeitar uma mulher que já disputou sete Copas do Mundo e tem mais de 25 anos dedicados à seleção brasileira? A história de Formiga se confunde com a do futebol feminino, porque teve muita luta, resistência e nunca teve holofotes.

O papel que hoje chamam de “volante moderno” é o que Formiga executa com maestria desde os anos 1990. Desarma, constrói, pisa na área, chuta bem, faz gols, serve as companheiras, recompõe, organiza, dita o ritmo do jogo. É mais fácil perguntar o que Formiga não faz em campo. E é assim desde 1995, aos 17 anos, na primeira Copa do Mundo em que vestiu a camisa da seleção brasileira, até hoje, aos 43, quando pretende vestir a mesma camisa em Tóquio 2021, na sétima edição olímpica do futebol feminino (e também a sétima com Formiga em campo).

Com tudo isso, Formiga ainda não teve o reconhecimento que merecia. Nem da Fifa, que nunca deu a ela o prêmio de melhor jogadora do mundo, nem da CBF, que sequer sabe precisar a quantidade de jogos dela com a camisa da seleção (já é recordista entre homens e mulheres, com mais de 200). No país que se diz do futebol, seria digno guardar para Formiga um espaço no hall dos ídolos —aproveitando que a genialidade dela a gente ainda pode acompanhar nos gramados.

Se o mundo ainda não reconheceu essa mulher como a melhor dele, azar do mundo. Afinal, como dizem, Formiga não parece ser mesmo desse planeta.