Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Como 'mendigos do bom futebol', queremos mais jogos iguais ao da Supercopa

Pelo nosso potencial, duelos como o último Flamengo x Palmeiras deveriam ser regra

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Ao longo da história, o futebol brasileiro produziu tantos times encantadores e jogadores espetaculares que nos habituamos a achar que, para sempre, o melhor estaria aqui.

O Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Cruzeiro de Tostão, o Flamengo de Zico, o São Paulo de Telê, o Palmeiras de Luxemburgo (o de 1993, não o de 2020), o Corinthians de 2000, o Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho…

Sem falar na seleção brasileira, verdadeira inspiração para um termo que seria para sempre usado no mundo todo como referência sobre o futebol bem jogado. O “jogo bonito” ou o “beautiful game” se popularizou para descrever o feito da seleção de 1970 na Copa do Mundo do México, quando o Brasil foi tricampeão e, mais do que isso, encantou o planeta.

Se por um lado nunca nos faltou talento para produzir o melhor futebol, por outro sempre tentamos fazer de tudo para miná-lo.

É assim que, todo ano, a gente tenta espremer 80 (ou perto disso) jogos num calendário impraticável para os principais times do país —enquanto as equipes menores ficam sem calendário na maior parte do ano.

Assim também viramos o país que só aceita ganhar, sem entender que cada vitória (e cada título) é um processo. Nessa cultura exageradamente resultadista, combinada com o amadorismo dos dirigentes e com o debate muitas vezes vazio/superficial da imprensa, técnicos são demitidos o tempo todo, sem que haja tempo para qualquer evolução do jogo.

E é em meio a toda essa pressão que, muitas vezes, atropelamos o processo de formação de jogadores —e aí também perdemos talentos.

Esses são alguns dos fatores que, para mim, ajudam a explicar por que assistir a jogos da qualidade de Flamengo x Palmeiras na Supercopa virou raridade no futebol brasileiro. Pelo nosso potencial, jogos assim deveriam ser a regra, não a exceção.

O fator financeiro (que tornou a Europa o centro do futebol mundial e o Brasil o maior exportador de talentos) é o único que não está ao nosso alcance mudar. Todos os outros estão.

Há 26 anos, o brilhante escritor Eduardo Galeano, em entrevista à Folha, autoproclamou-se um “mendigo do bom futebol”.

“Agora sou um mendigo do bom futebol. Vou com o chapéu na mão, implorando: ‘me dá uma boa jogada pelo amor de Deus!’. Não me interessa a equipe ou o país que me brinde com esse milagre de jogar um bom futebol”, afirmou ele em fevereiro de 1995.

Quem sou eu na fila do pão para mendigar ao lado de Eduardo Galeano, mas, se sua memória me permite essa citação, eu me sinto muito representada por ela.

Não há demérito nenhum do Palmeiras ao ser campeão da Libertadores jogando mal a decisão —o Flamengo de 2019, inclusive, também foi campeão fazendo um jogo ruim na final e virando nos últimos minutos.

Mas é tão melhor quando os times envolvidos entregam um espetáculo como esse que Flamengo e Palmeiras entregaram no domingo.

Um jogo que mostrou que a saída do goleiro com chutão também pode gerar gol do adversário, como aconteceu na pintura de Raphael Veiga. E também comprovou que ter craques no elenco pode fazer toda a diferença, como aconteceu no passe preciso de Arrascaeta para a jogadaça de Filipe Luís que resultou no gol de Gabriel.

Mostrou que dá para jogar bonito na posse de bola ou no contra-ataque, como ficou claro após o belo passe de Danilo para Rony no pênalti cometido por Rodrigo Caio. Weverton e Diego Alves confirmaram o clichê de que “todo bom time começa por um bom goleiro”.

Enfim, aos mendigos do bom futebol, esse jogo foi um prato cheio. Estamos sedentos por mais.

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