Siga a folha

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Pioneiras voltam à seleção em resgate de história apagada pelo preconceito

Ex-jogadoras como Meg, Miriam e Roseli são finalmente lembradas e reconhecidas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Há momentos em que os olhos falam. E, quando Meg, aos 65 anos, Pretinha, aos 46, Roseli, aos 52, Miriam, aos 56, e tantas outras adentraram os vestiários da Granja Comary no último domingo, eles gritaram.

O cenário é costumeiro para os jogadores e jogadoras que vestem a camisa da seleção brasileira hoje. Para elas, que nem uniforme ganhavam no passado, ver seus nomes nas costas de uma camisa do Brasil e suas fotos na parede gera espanto. "Eu posso mesmo levar isso pra casa? Ou tem que devolver no fim?", Fanta admite ter perguntado. A lateral esquerda da seleção de 1991 lembra que era assim há 30 anos.

As roupas cedidas pela CBF para que as jogadoras representassem o Brasil na primeira Copa do Mundo feminina da história não ficavam com elas. Tinham que devolver até o top. Daqueles tempos, o que deu para guardar foi a caneleira (de papelão), a chuteira e os poucos recortes de jornal do que saía na época sobre elas.

Pioneiras da seleção brasileira disputaram jogo festivo em Teresópolis - Thais Magalhães/CBF

Não contar uma história é o mesmo que tentar apagá-la. A CBF nas décadas passadas fez de tudo para que ninguém se lembrasse da existência de uma seleção feminina. Mas essas mulheres e suas memórias resistiram.

E finalmente elas puderam ser lembradas, homenageadas, reconhecidas como as pioneiras do futebol feminino no Brasil. Uma partida amistosa na Granja Comary reuniu atletas que representaram a seleção no Mundial experimental de 1988 e na primeira Copa do Mundo, em 1991. Na chegada, as paredes do hotel do centro de treinamento da seleção traziam as fotos delas.

"Passa um filme na cabeça viver tudo isso. Valeu a pena a nossa luta. Mostra que a nossa história está viva. A gente está viva", disse Dilma Mendes, a treinadora que descobriu Formiga, mas que não pôde vestir a camisa da seleção como jogadora porque no seu tempo mulher que jogava futebol tinha que fugir da polícia –isso por causa de um decreto-lei vigente de 1941 a 1979.

Perfiladas e de mãos dadas, elas entraram no campo que em décadas anteriores não podiam pisar, que dirá jogar. "Diziam que a gente ia estragar o gramado. A gente só ficava correndo em volta no aquecimento", contou Roseli.

Rolou a bola, e o que aconteceu dali em diante é história. História narrada e comentada por mulheres, com Natália Lara, do SporTV, e Camila Carelli, da Rádio Globo, dando voz aos lances das pioneiras em campo.

Lances bonitos, golaços, pênaltis defendidos, alguns escorregões e muita diversão. Ali, elas foram livres para jogar como talvez nunca tenham sido ao longo de suas carreiras tão marcadas pela luta contra um preconceito que era ainda mais forte –mas que ainda insiste em ficar, enquanto a gente resiste sem tirar o time de campo.

Pela primeira vez, o mínimo: reconhecimento. Dar nome às pioneiras que começaram o futebol feminino no Brasil é registrar, com atraso, a história que elas escreveram. Falta mais.

"A gente pede para que tenha possibilidade de acesso a esses cursos de treinadores da CBF. Ou que se estude também uma aposentadoria, como a que foi dada aos campeões de 1958 e 1970. Muitas de nós precisam se virar trabalhando de motorista, fazendo bicos. É um reconhecimento que a gente merece por ter contribuído com essa história", disse a goleira Meg.

O que as pioneiras viveram na Granja Comary no domingo é o que as jogadoras da seleção brasileira vivem hoje em qualquer treino, em qualquer jogo. Mas é preciso saber de onde a gente veio para valorizar cada conquista e entender para onde estamos indo. Os frutos que elas colhem hoje foram plantados por muita luta dessas mulheres que finalmente estão recebendo as homenagens que merecem.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas