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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Segundo os jornais, o aplicativo para celular que revela às pessoas a aparência que terão quando forem velhas acede aos dados privados do usuário e os vende. 

É um passo em frente na já rica História Universal da Burla: antigamente, os burlões tentavam enganar velhos; agora tentam enganar usuários que desejam saber como vão ser quando forem velhos. 

A velhice está sempre em causa, mas os burlões conseguem apanhar os burlados cada vez mais cedo. 
Quando descarrega o aplicativo, o usuário concorda em oferecer os seus dados privados. Dada a frequência com que são oferecidos, faz cada vez mais sentido que os dados se chamem dados. No entanto, é surpreendente que o fornecimento de dados privados a grandes empresas continue a gerar alarme: depois de terem oferecido os seus dados privados ao Facebook, ao Instagram, ao Twitter e ao Google, os usuários estão agora a oferecê-los a uma outra empresa. 

Não sei se é possível continuar a falar em dados privados. Há anos que os dados são, no mínimo, semipúblicos. O meu celular sabe exatamente para onde é que eu vou e a que horas. Assim que me sento no carro (e ele sabe que eu acabei de me sentar no carro) diz-me qual é o melhor caminho para o meu destino. 

A Amazon sabe quais são os tipos de livros que me interessam. O YouTube sabe que vídeos é que tenho vontade de ver. Portanto, não há muita coisa que o mundo desconheça sobre mim. Estou a dar uma entrevista contínua às grandes multinacionais. 

O fato mais surpreendente deste aplicativo que revela como seremos daqui a 30 anos é que dá a toda a gente uma esperança de vida de, pelo menos, 30 anos. 

Em princípio, o aplicativo já sabe o suficiente para deduzir o tempo que nos resta. À pergunta “Como serei eu em 2049?”, o aplicativo deveria responder: “Tendo em conta os seus hábitos alimentares e a sua relutância em praticar exercício físico, nessa altura terá o aspecto deste monte de cinzas”. 

Mas não, continua a mostrar uma cara enrugada. Ou seja, têm os nossos dados, mas não fazem verdadeiro uso deles. Pelo menos para o nosso bem. Mas isso já nós sabíamos.

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