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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Exercício físico após os 40 nos faz questionar até mais do que a filosofia

Nosso objetivo devia ser impor a ideia de que uma pança de cerveja é extremamente bela

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Quando Juvenal formulou o ideal da mente sã num corpo são devia ter menos de 40 anos.

A partir dos 40, uma pessoa tem de escolher: ou tem a mente sã e o corpo mole, ou tem o corpo são, mas perde a cabeça. O trabalho que dá manter o corpo são não permite manter a mente sã.

É preciso fazer o dobro do exercício que os jovens fazem para obter metade dos resultados. Uma coisa é certa: fazer exercício físico depois dos 40 anos é uma atividade que nos faz questionar —até mais do que a filosofia.

Publicada neste domingo, 15 de novembro de 2020 - Luiza Pannunzio/Folhapress

Muitas vezes estou na academia e interrogo-me: o que estou aqui a fazer? Por que é que não fiquei em casa a tomar um coquetel? Que barulho foi esse que a minha articulação do joelho fez?

Por que é que parece o solo de bateria com que começa o tema “We Will Rock You”, do Queen? Será que alguma vez vou deixar de assinalar, com sons, que me sentei, levantei ou apanhei algo do chão?

O trabalho é chato e repetitivo. Trata-se de levantar coisas pesadas e voltar a pousar coisas pesadas. Tudo esforços que a nossa sociedade se organizou para que não tivéssemos de levar a cabo. Como, enquanto espécie, deixamos de ter de correr e pegar em coisas pesadas, agora temos de ir para um lugar em que nos obrigam a correr e a pegar em coisas pesadas. Não sei se é o procedimento mais inteligente.

Além do mais, o resultado não vale o esforço.

Mesmo que a gente consiga atingir o objetivo de perder a barriga, o melhor comentário a que podemos ambicionar é: “Olha só o estômago liso daquele careca que tem dificuldade para entrar no carro”.

O nosso objetivo devia ser operar uma profunda alteração que existe no ideal de beleza ocidental.

Começar a impor a ideia de que uma pança de cerveja é extremamente bela. Que ter cabelo viçoso na cabeça é uma estupidez. Que a masculinidade moderna, dinâmica e viril consiste em estar no sofá, com um charuto numa mão e um copo na outra. Que roupa de andar em casa com pequenos buracos feitos pela cinza é a indumentária mais sedutora.

Formular, publicitar e impor essas ideias ao nível planetário envolve menos esforço do que fazer 12 repetições de bíceps com 15 quilos em cada braço, acreditem.

Amanhã, quando estiver a suar na academia, formularei melhor esse plano.

Depois darei notícias.

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